quarta-feira, 26 de março de 2014

POLÍTICA: Aonde páram os jovens?

Esta noite um telejornal apresentou a reportagem de uma dúzia de jovens à porta do Pavilhão Atlântico ansiosos por assistirem ao concerto de Beyonce.
É claro que as declarações dos entrevistados soaram-me particularmente grotescas em função da cantora me deixar quase indiferente. Ainda assim, suficientemente atento para não compreender o entusiasmo por algo, que não passa da banda sonora de um negócio chorudo traduzido em milhões de dólares em concertos, discos e publicidade.
Mas, ao mesmo tempo, a indigência mental daqueles tontos confrontou-se inevitavelmente com a grande interrogação que há quem faça há um bom  par de anos: porque é que os jovens não estão mobilizados para lutarem contra as políticas deste governo, seja mediante a participação em manifestações, seja através de reivindicações pertinentes quanto à (falta de) qualidade do ensino da era crato.
Quanta diferença em relação a outras épocas históricas, quando os jovens estavam na primeira linha das lutas sociais e constituíam a sua face mais combativa!
Será porque estão bem melhor do que o indiciam as imagens de tantos a despedirem-se dos familiares nos aeroportos nacionais? Não é o que acaba de revelar o Relatório do European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions segundo o qual 55% dos jovens portugueses com idades entre os 18 e os 29 anos não conseguem ser independentes, mantendo-se dependentes em relação aos pais. O que coloca o país entre aqueles em que há mais jovens em carência extrema.
Esses indicadores são reveladores quanto à falta de expectativas hoje colocadas a toda essa geração, que não encontra condições para levar as suas relações afetivas ao desiderato lógico de fundarem as suas próprias famílias.
Vivendo na dependência dos progenitores, que são precisamente da geração em que lutar constituía a alternativa mais lógica a tal negação de oportunidades, sentir-se-ão tentados à abulia pelo facto de os verem complacentes com a resignação de que dão mostras.
Hoje os pais e os avós sentem-se vocacionados para sacrificarem as suas próprias expectativas e aligeirarem as inesperadas ameaças, que sentem pairar sobre a cabeça dos filhos e netos. Daí que não haja conflito de gerações, mas apenas o acomodamento das respetivas frustrações.
A lembrar o que dizia Jean Cocteau: “Os jovens adoram desobedecer. Mas, atualmente, não há mais ninguém para lhes dar ordens”. E eles entretêm-se com as Beyonces do nosso tempo!


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