As semanas vão passando e, da abertura dos telejornais, ou das primeiras páginas dos jornais, as notícias sobre a Ucrânia vão cedendo a prioridade para as que vão ganhando maior atualidade. É claro que, por exemplo, a sequência de imagens com fascistas a irromperem pelo gabinete do diretor da televisão estatal a agredi-lo violentamente e a obriga-lo a redigir, ali mesmo, a sua carta de demissão, merecia maior divulgação por ilustrar o carácter hediondo da serpente, que emergiu do ovo chocado em Kiev, mas o discurso dominante - aquele que diaboliza Putin! - tratou de logo a retirar de cena.
Temos, pelo contrário, a farsa das sanções ou durão barroso a apaparicar o primeiro-ministro de um governo cuja legitimidade é mais do que questionável à luz dos princípios democráticos. Desde a tenebrosa cimeira das Lajes, que o atual comissário europeu se presta ao papel de testa-de-ferro do que mais tem interessado a Washington, que ele desempenhe. Por muito que tenha fracassado n manobra para que a CIA terá trabalhado ativamente nos últimos meses: criar as condições para vedar o acesso da frota militar russa ao Mar Negro e ao Mediterrâneo.
Justificar-se-á o espanto de angela merkel, quando se admirou com a reação negativa de Putin ao seu cântico de sereia telefónico? Por muito melodioso, que ela pretendesse entoá-lo esse cântico não impediu o rumo da trajetória decidida por Moscovo para fazer vingar os interesses estratégicos nas suas fronteiras!
O Ocidente capitalista e atlantista terá julgado que, perante as evidentes fragilidades da economia russa, seria altura de dar o golpe definitivo na última superpotência que o oportunismo etílico de ieltsin quase afundou. Mas equivocou-se e está em vias de pagar um preço demasiado caro pelo seu erro de apreciação: em dinheiro com que terá de subsidiar um país falido, mas em que multidões foram manipuladas em nome de sonhos irrealistas, e, politicamente, por ser previsível uma guerra civil a curto prazo quando, cavalgando, o descontentamento popular, a extrema-direita se livrar, por imprestáveis aos seus interesses, dos representantes políticos dos oligarcas ligados a Timoshenko.
Por muito que a primeira batalha - a conquista do poder em Kiev - tenha sido ganha pelo capitalismo ocidental, a segunda (a anexação da Crimeia), já pendeu para o capitalismo estatal russo e as próximas tenderão a favorecer este último.
Para já as sanções americanas e europeias levarão Moscovo a privilegiar o relacionamento económico com outros parceiros, nomeadamente a China, que se vai abstendo no Conselho de Segurança da ONU, mas só tem a lucrar com o enfraquecimento do polo atlantista.
E, inteligentemente, Putin já deu ordem para o aumento das pensões dos reformados da Crimeia, naquilo que será a previsível transformação da península na montra do que as populações russófonas das antigas repúblicas soviéticas terão a ganhar com o regresso ao espaço anterior a 1989. É o que já se passa com uma das zonas mais industrializadas da Ucrânia - a região de Donbass - que assume a intenção de imitar os vizinhos de Simferopol.
Não faltará muito para que os cada vez mais desavindos aliados atlantistas se tenham de vergar ao verdadeiramente desejado por Moscovo: a federalização da Ucrânia, que garanta às regiões federadas não só autonomia em política interna, mas também a liberdade de escolherem as suas relações internacionais. Sem sequer se colocar a possibilidade, tão desejada pelo Pentágono, de a transformar em mais um membro da NATO…
Tendo querido ganhar tudo, os atlantistas terão de lamber as feridas da sua impressionante derrota estratégica!
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