sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

POLÍTICA: quem não mata a fera que o ataca enquanto está ferida


A participação de António José Seguro no Opinião Pública da SIC Notícias veio demonstrar que uma das dificuldades, que explicam porque o PS não sobe nas sondagens e continua a ser menosprezado pela generalidade dos comentadores mais à esquerda, tem a ver com o passado recente: a governação de José Sócrates.
Vários foram os espectadores, que quiseram uma posição concreta do entrevistado quanto a essa matéria, partindo do pressuposto preconceituoso de se tratar de uma «herança pesada». Infelizmente nenhum deles recebeu o esclarecimento, que se impunha.
Tenho para comigo que o primeiro governo de José Sócrates foi excelente: de uma situação muito deficitária nas contas públicas herdada dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, chegou-se a desequilíbrios inferiores aos 3% (situação que nem a Alemanha, nem a França conseguiam por essa altura!). Por outro lado, o país estava em acelerado desenvolvimento em áreas essenciais para o nosso futuro como o eram as energias renováveis (fundamentais para a redução do défice na balança comercial por causa da importação de gás natural e hidrocarbonetos) ou a investigação científica. Na educação estava a gerar-se um impulso modernizador fundamental com escolas modernizadas, generalizado o ensino do inglês e a utilização intensiva das novas ferramentas informáticas (o tão vilipendiado computador Magalhães).
Na economia a aposta no investimento público facilitava a movimentação intensiva de fluxos monetários, que davam vida a grandes, médias, e pequenas empresas, que geravam emprego e possibilitavam sucessivas melhorias nas condições de vida dos portugueses. Sem esquecer que, na Segurança Social, promovia-se uma reforma, que deu aos reformados e pensionistas a garantia da sustentabilidade do contrato social consigo estabelecido para as próximas décadas.
Esta foi a realidade até setembro de 2008 e, muito embora, desde início o primeiro-ministro José Sócrates nunca deixasse de ser objeto de sucessivos assassinatos de carácter, promovidos por uma conjunção de interesses quer à esquerda, quer à direita, os resultados iam-se vendo e o Partido Socialista mantinha-se insuperável nas sondagens.
Até mesmo a feliciacabritação ou manuelamouraguedização de muitas notícias de inqualificável indecência travavam a determinação de quem sabia estar a trabalhar para um futuro mais digno para a maioria dos portugueses.
A viragem teve a ver com a falência do Lehman Brothers e tudo quanto se associou à chamada crise dos subprimes em Wall Street. De repente o dinheiro, cujo custo era extremamente barato nos mercados financeiros, passou a custar cada vez mais. E uma pequena economia como a portuguesa iria sentir os efeitos avassaladores de tal situação.
Se tivesse consultado uma bola de cristal e visto o futuro, decerto que o primeiro-ministro teria acautelado o que viria a seguir. Mas quem poderia adivinhar que, em vez de serem encostados à parede e sujeitos a intensiva regulamentação como o exigiam as circunstâncias, os banqueiros de Wall Street tenham encontrado no presidente Obama, que seria eleito logo a seguir, um timorato aliado?
As consequências ficaram à vista: quem não mata a fera que o ataca enquanto está ferida, acaba por ser por ela vitimado quando recobra as forças. E todo o ataque contra as dívidas soberanas, que conjugou esforços das agências de rating, dos hedge funds, do FMI, da Comissão Europeia e dos grandes bancos internacionais, foi fatal para o segundo governo de José Sócrates. Que na altura contou entre os seus principais opositores, enquanto «idiotas úteis», que só favoreceram a rápida ascensão dos braços armados das diversos «goldmans sachs boys» em questão, os deputados e sindicalistas do PCP e do Bloco de Esquerda.
Louçã e Mário Nogueira são apenas dois dos rostos mais óbvios de toda uma dinâmica política, que iria conhecer o seu paroxismo com a votação do PEC4.
Seria tudo isto, que teria desejado ver recordado pelo secretário-geral do Partido Socialista. Porque, não o fazendo  António José Seguro está a dar espaço aos que continuam a alimentar o mito de ter sido o partido a levar o país à bancarrota, de ter sido quem teve de chamar a troika (como se não se tivesse tratado de um conluio preparado na sombra por Ricardo Salgado, Fernando Ulrich e Faria de Oliveira com a colaboração de Teixeira dos Santos e a que um enfraquecido Sócrates já não se pôde opor!).
Teria, pois, gostado de ouvir António José Seguro defender uma vez por todas o legado de José Sócrates no muito que teve de positivo, a começar pelo orgulho em puxar pelas energias positivas do país e querer posicioná-lo ao mesmo nível que os principais parceiros europeus. Enquanto não o fizer, permitirá que arda em fogo lento um injustificável preconceito anti-socialista, que só beneficia quem trabalha intensamente para reduzir Portugal àquilo que Alexandre O’Neill traduzia como um país no diminutivo!

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