Há muitos anos atrás, quando navegava os oceanos em navios de carga, costumava participar na mesa da messe dos oficiais com um comandante, que acreditava na perenidade do estado das coisas. Mandela, que ainda estava na ilha de Robben, a mandar numa África do Sul pós-apartheid? Essa possibilidade não lhe parecia exequível nem sequer no pior dos seus pesadelos! E Arafat a sair do exílio do norte de África para se instalar na Palestina? Muito menos.
Penso sempre nessa figura peculiar, quando ouço os discursos dos que falam da inevitabilidade das circunstâncias ou a falta de alternativas a este capitalismo selvagem e obsceno, que ainda somos obrigados a suportar.
O escândalo do dinheiro entregue ao Banif é apenas mais um exemplo do carácter imoral deste capitalismo, que leva Daniel Oliveira a concluir a sua crónica do Expresso com eloquente conclusão: o capitalismo entrou na sua fase mais interessante. A velha ideia de quem paga manda já não tem validade. O Estado paga, os que precisaram do seu dinheiro continuam a mandar. Adoro os liberais que nos governam. Garantem um Estado forreta para quem o financia, que somos nós, e generoso para quem dele tira proveito. Nesta altura não ouvimos a conhecida expressão de Vítor Gaspar: "Não há dinheiro. Qual das três palavras não percebeu?"
Presumo que, quando analisou a evolução do sistema capitalista, Karl Marx nunca previu este estado último do sistema de exploração das maiorias por minorias desonestas e cada vez mais restritas. Se tivesse sabido deste tipo de comportamento dos gaspares, o filósofo alemão não deveria ter dificuldade em imaginar guilhotinas como desenvolvimento lógico da situação. Mas, como estamos noutros tempos, uma das curiosidades, que ainda estou assaz curioso de ver, é como acabará essa gente. Porque atrás de tempos, tempos vêm, e não se compadecerão com este tipo de regabofes!
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