quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

POLÍTICA: e, no entanto, ele move-se!


O famigerado relatório do FMI continua a suscitar reações em série na sociedade portuguesa, sendo raríssimos os que se atrevem a defender a sua seriedade ou mesmo credibilidade. De repente assistiu-se a uma réplica da entrevista do suposto especialista das Nações Unidas ao Nicolau Santos, mas numa versão mais tosca: um documento em inglês, com os seus autores a proclamar «nós no FMI achamos tá-tá-ti, tá-tá-tá», mas sendo obvia a autoria real de tal ferramenta de propaganda: o próprio (des)governo! Porque sabia bem qual seria o resultado da sua «encomenda».
É isso mesmo que defende Pedro Marques Lopes no «Diário de Notícias»:  ‘A verdade é que Passos Coelho contratou o FMI para lhe escrever o seu programa ideológico. 
Como qualquer programa político é marcado ideologicamente, a opção ideológica naturalmente reflete-se na maneira de fazer os diagnósticos, na forma de levantar as questões e essencialmente nas soluções propostas.
Este relatório do FMI não deixa de ter inexatidões graves, erros flagrantes e enormes falsidades, mas sempre com o mesmo objetivo: defender opções políticas (até nisso se aproxima de um manifesto eleitoral).
Mais, quando se pede um estudo deste tipo ao FMI sabe-se o que se vai obter. Digamos que a receita é conhecida e, para quem não saiba, não resultou em nenhum lado, da América Latina à Ásia.
Pedir ao FMI um estudo sobre a reforma do Estado é perguntar a um muçulmano se prefere cordeiro ou porco. Já sabemos a resposta. 
Claro que, mesmo que tivesse sido genuína e sem preconceitos ideológicos, essa solicitação ao FMI, é Eduardo Ferro Rodrigues quem vê neste triste episódio uma demonstração eloquente da falta de sentido de Estado da clique comandada por passos coelho: [Se o] Governo se respeitasse a si próprio não encomendaria um relatório com argumentos de fora que visam dobrar a espinha a quem defende a solidariedade social.
Não admira que a contestação cresça nos próprios painéis de comentadores dos jornais económicos, nem sempre  capazes de saírem da perspetiva camilolourençista. Vide o que diz João Jesus Caetano no «Diário Económico»: Do governo seria de esperar que se capitasse para poder negociar com os credores. Mas o que faz é pedir ao FMI que analise o país e legitime o seu verdadeiro Programa do Governo: transformar Portugal num laboratório-vivo de experimentalismos sociais.
Que o tiro saiu em inesperado ricochete para quem com ele pretendia prosseguir a agenda ideológica há demasiado tempo em curso, confirma-se no desespero subsequente do (ainda) primeiro-ministro, apostado em se proclamar mandatado para prosseguir neste rumo em direção ao desastre anunciado sem ninguém que o detenha. O que leva a Ana Sá Lopes no insuspeito «i» a ripostar: Não, o PSD não está mandatado para nada. Os portugueses votaram num homem que dizia coisas radicalmente diferentes.
Com a seriedade com que analisa os números todos das finanças públicas, Eugénio Rosa concluiu na sua página: “O FMI não só se “esqueceu” de analisar os efeitos sociais das medidas que propõe, que são dramáticos, mas também as consequências económicas destas mesmas medidas, que são brutais. Utilizando o multiplicador recessivo elaborado pelo próprio FMI (redução do défice orçamental em 1 => redução PIB em 1,7), um corte no défice orçamental de apenas 4.000 milhões € (o valor inicial referido pelo governo) determinaria uma quebra no PIB que, segundo o próprio FMI, poderia atingir 4%. Portanto, a recessão grave que o país já enfrenta, com a multiplicação de falências de empresas e o disparar do desemprego, a destruição do tecido económico e social, ainda se agravaria mais. Mas tudo isto é “esquecido” pelo FMI, o que é esclarecedor.”
É por isso que voltando aos tais jornais especializados em temas económicos, temos outro colunista, Filipe Nunes, a prever uma vida curta para este estertor governativo: A ideia de reduzir a despesa social serviu para unir uma coligação em crise e para "marcar a agenda" do debate orçamental. No entanto, pela forma e pelo momento em que foi lançada, a "reforma do Estado" só tem servido, efetivamente, para isolar cada vez mais o Governo. Dificilmente este Governo conseguirá mobilizar os partidos que o apoiam para uma agenda do tipo da que consta do recente estudo do FMI, quanto mais o Presidente, os parceiros sociais ou o Partido Socialista.’
Resta desejar que, quando a morte ocorrer, a terra venha a ser bem pesada para esta putrefacta coligação...

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