Tudo começou com um post do Miguel Coelho no Facebook a propósito da reação da deputada Heloísa Apolónia aquando da abstenção do PS sobre a proposta de aumento do salário mínimo nacional.
Enquanto socialista com mais de um quarto de século de vínculo ao partido, nem gostei da posição da sua bancada parlamentar e muito menos do conteúdo do texto do Miguel:
Momento hilariante na AR: a deputada dessa verdadeira aberração chamado Partido Ecologista os Verdes, Heloísa Apolónia, justificando a aliança com a direita para derrubar o Governo de José Sócrates, afirma: os srs (PS), depois do PEC1, Pec2, 3, queriam que a "Verdadeira Esquerda" apoiasse o Pec4?. Desta "verdadeira esquerda" ficamos todos esclarecidos....
E, porque ele levanta questões mais relevantes gostaria de deixar aqui expressas as seguintes opiniões:
1. a circunstância excecional, que permitiu a José Sócrates contar com a maioria absoluta no primeiro mandato do seu Governo, não é crível que se repita a curto/médio prazo, pelo que, mesmo ganhando eleições com maioria relativa, o Partido necessitará de fazer alianças com outro parceiro político;
2. é lamentável que, enquanto a direita facilmente dilui as suas diferenças e se une, a esquerda não o consegue muito por causa do espírito sectário, que a costuma caracterizar e de que o post do Miguel Coelho e muitos dos comentários a ele acrescentados denotam. Aliás esse espírito sectário está bem presente nas nossas secções do Partido em cujas reuniões se ouvem muito mais facilmente posições anti-PC ou anti-BE do que contra o PSD ou contra o CDS;
3. o combate ao sectarismo não se faz com mais sectarismo, mas com a abertura de pontes efetivas para com os potenciais parceiros. Ora, abandonar de vez a desculpa de terem votado contra o PEC 4 como forma de os desqualificar permanentemente deveria ser a atitude inteligente de uma direção responsável;
4. se nos ativermos na experiência francesa, quer com Mitterrand, quer mais recentemente com Hollande, a vitória da esquerda resultou do esforço em pretender liderar a federalização das suas tendências do que em combate-las e querer-lhes impor um pensamento dominante;
5. É tempo de os socialistas se definirem claramente quanto ao seu posicionamento ideológico: estão com quem pretende uma sociedade mais igualitária e justa ou com quem pretende cavar o fosso entre os direitos dos mais ricos e dos mais pobres? Quer conhecer um fracasso da dimensão de um PASOK ou replicar a estratégia potencialmente vencedora do Partido Democrático Italiano? Como Mário Soares enquanto líder histórico do PS tem defendido com persistência o combate não se faz contra os que estão na mesma trincheira que nós (mesmo sabendo-os suficientemente inábeis para termos de contar com algum «fogo amigo»), mas contra quem produz iniquidades sem fim na trincheira oposta!
Ao constatar como António José Seguro tarda em impor-se como uma alternativa credível junto dos portugueses, fica a questão: se em vez de manter um posicionamento tão ambíguo perante o memorando e perante os movimentos sociais inorgânicos que vão proliferando, ele se assumisse como o político capaz de assumir as aspirações de quem esteve na rua a 15 de setembro e reunisse sem receios com comunistas e bloquistas para definir o mínimo denominador comum de uma progressiva estratégia de contestação a este estado de coisas, o impacto nas sondagens e no imaginário coletivo dos portugueses seria determinante para a aceleração do presente ciclo. E mostraria a consistência de uma verdadeira alternativa!
É claro que as televisões e os jornais não deixariam de agitar o papão comunista, mas hoje em dia, sem emprego, ou com ele sempre à beira de ser extinto, os portugueses têm muito maior receio desta direita troglodita que dos supostos extremismos de esquerda…
Por isso mesmo o post do Miguel Coelho e os comentários contra a Heloísa Apolónia acabam por ser o contrário do que pretendem: são, de facto, tiros nos pés de uma alternativa coerente e consistente para um futuro melhor dos portugueses!
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