domingo, 6 de janeiro de 2013

POLÍTICA: ai coitadinhos que são umas vítimas incompreendidas!


O discurso de passos coelho e dos seus cúmplices, quer no governo, quer na comunicação social, está a convergir para uma mensagem simples, mas perfeitamente coordenada pela central de (des)informação, que a concetualizou: depois dos sacrifícios passados, só é preciso que os portugueses aguentem mais este embate que, a seguir, chegam as prometidas maravilhas da campanha eleitoral.
Não há, pois, qualquer retratação por nunca terem chegado a acertar nas previsões de tudo quanto implementaram - questão de pormenor! - porque já não é a luz o que se vê ao fundo do túnel: é um imenso clarão feito de empregos aos molhos e de remunerações  bastantes para todos os portugueses acompanharem relvas, loureiro e arnaut nas luxuosas férias do Hotel Copacabana do Rio de Janeiro no próximo réveillon.
É sobre esse tipo de discurso concertado, que fala João Pinto e Castro no «Jugular»: Algumas pessoas, cujas opiniões respeito, têm vindo a defender nos últimos tempos que, por muito má que seja a política económico-financeira subjacente aos OE2013, a sua aplicação é indispensável para evitar que o país “morra na praia”. (…)
Não, caros amigos, a praia não está à vista. Bem pelo contrário, fortes correntes cuja direcção e ímpeto não controlamos estão a puxar-nos irremediavelmente para o mar alto. Só uma inversão urgente e decidida do rumo até hoje seguido poderá evitar o desastre iminente.
Estamos, pois, a caminho do desastre por muito que passos e companhia anunciem o contrário. E, contando com ele, a mesma central de (des)informação já vai preparando o discurso de resposta, começando obviamente por culpar a Constituição, enquanto documento matriz de todas as forças de bloqueio. O que leva a mais que insuspeita Constança Cunha e Sá a reagir indignadamente no «i»: Mais uma vez, e por incompetência do governo, a Constituição é posta em causa por parte de um certo PSD que quer à viva força alterá-la, mesmo em matérias que constituem o cerne de qualquer constituição que se preze. Pode-se discutir a interpretação do princípio da igualdade: o que não se pode é pretender, como algumas luminárias pretendem no seguimento da mensagem do Presidente, expurgar o princípio da igualdade da Constituição, sob pena de Portugal deixar de ser um Estado de direito – um pormenor que, aparentemente, não incomoda essa gente. Basta ver a inaceitável pressão que se está a abater sobre o Tribunal Constitucional. Uma vergonha!
Outro proclamado votante em passos coelho também manifesta o seu repúdio pelas suas políticas ao realçar a ilegalidade flagrante do governo á luz do que é e deve ser um Estado de Direito: O pior que podia acontecer era termos um Governo a culpar o Tribunal Constitucional ou a própria Constituição por não conseguir implementar as medidas que acha certas. Se assim for não estaríamos só perante uma afronta ao Tribunal ou uma simples manobra de vitimização. Era muito mais grave: teríamos o primado da lei em causa. Era o próprio Estado de direito que o Governo estaria a atacar.
Na sua página do facebook, o antigo deputado bloquista José Manuel Pureza a prever o argumento da inevitabilidade como móbil para a estratégia anti-Constituição: O Governo ensaia o próximo discurso de desculpabilização e de contra-ofensiva. A Constituição é anunciada como sendo a causa do seu falhanço, pelo que mudá-la de alto a baixo é a próxima "inevitabilidade". É um discurso com antecedentes célebres: o da qualificação da lei e das instituições que a garantem como "forças de bloqueio" a um governo que, virtuoso como este, exigia "deixem-nos trabalhar". Lembram-se do seu mentor?
Mas para quem não perceber o que está verdadeiramente em causa a Fernanda Câncio publicou no «Jugular» uma comparação eloquente: quem acha que não se pode pedir ao tribunal constitucional que fiscalize o orçamento porque "depois falta dinheiro" deve defender que o governo possa fazer assaltos na rua também, não?
e, claro, se alguém chamar a polícia é porque é anti-patriótico -- vindo logo catroga (depois de pôr os bens a salvo, naturalmente) apelar para que se retire do código penal a parte que criminaliza o roubo.
não faltará até que se exija a quem se tenta proteger do saque que apresente, desde logo e à cabeça, soluções para o problema de falta de rendimento do ladrão. é que o pobre, coitado, não sabe fazer mais nada.   
E, no entanto, um chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento para 2013 não é nenhum drama. Como  lembra Pedro Adão e Silva, no «Expresso», no caso dos letões até constituiu uma inesperada oportunidade: Vale a pena refletir no que se passou na Letónia. Em 2009, esta república do Báltico foi um dos primeiros "ratos de laboratório" na Europa da experiência de "austeridade expansionista" promovida pelo FMI. Enquanto se assistia a uma contração brutal na economia e a um falhanço colossal nas metas do défice para 2010, o Tribunal Constitucional letão declarou inconstitucionais cortes nas pensões, que correspondiam a 1,5% do PIB. Perante o falhanço da receita e face à decisão do TC, o FMI, em lugar de impor novos cortes, aproveitou para aliviar as metas, o que acabou por contribuir de facto para a estabilização da economia.
Para o apreciador de livros de auto-ajuda que é o pedro passos coelho este exemplo de um outro Pedro, muito mais sagaz, deveria servir de modelo inspirador!!!

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