sábado, 5 de janeiro de 2013

FILME DE CURTA-METRAGEM: "Água Fria" de Pedro Neves



Pela segunda vez em poucos meses revisitámos a curta-metragem, que Pedro Neves rodou numa aldeia piscatória junto a Esposende no Verão de 2010 e em que se detetam os piores estereótipos de uma certa forma de ser português.
Estava-se, então, no Portugal de José Sócrates, quando a aposta era na investigação científica, nas energias renováveis e em tudo quanto projetasse o país para a modernidade. Mas aqui o que se vê é o Portugal dos feios, porcos e maus, de corpos disformes, de mulheres de bigodaça, da música pimba e das procissões dignas das cenas mais absurdas dos filmes mexicanos de Buñuel.
A voz off considera que se revela um povo sofrido, donde a alegria está ausente. E conformado com as promessas do céu para compensar as agruras na terra.
Não duvido que foi este povo iletrado, em quem os exploradores elogiariam a sua “humildade”, que levou passos coelho à governação. E que sofre agora as piores consequências da sua estúpida aposta. Mas também não duvido que muitos desses participantes no ritual místico com raparigas vestidas de nossa senhora ou de anjos e com bébés mergulhados três vezes nas águas do oceano, continuarão a sofrer as agruras do desemprego, das remunerações de miséria, do encarecimento da saúde e da educação com o conformismo de quem exorciza pecados imaginários.
A mudança - desejavelmente o regresso ao país ambicioso e determinado de Sócrates - continuará a não passar por esta gente, que continuará a ver nas ideias de esquerda a pior ameaça para a aspiração em se virem a sentar ao lado de deus, pai, nosso senhor...


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