sábado, 26 de janeiro de 2013

DOCUMENTÁRIO: «O Regresso dos Extremistas à Europa» de Laurent Delhomme e de Alexandre Spalaikovitch



A crise financeira, primeiro, e a económica, que se lhe associou, tem trazido a toda a Europa um lastro de desesperança perante o futuro imediato, que tem servido para movimentos de extrema-direita se afirmarem progressivamente com uma implantação como há muito se desconhecia.
A relevância dos neonazis do «Aurora Dourada» na Grécia é a melhor demonstração de como, apostando em políticas de austeridade e de cortes cegos nos direitos associados ao Estado Social, as instituições financeiras e comunitárias estão objetivamente a favorecer a ascensão de quem aproveita para pôr em causa esta forma de democracia em que nos julgávamos consolidados.
O documentário de Laurent Delhomme e de Alexandre Spalaikovitch inquieta pela convergência explicita de grupúsculos, que recorrem à internet e ao mais avançado marketing de comunicação para divulgar as suas retrógradas mensagens políticas. Que invariavelmente apostam no racismo, na vontade de expulsão do outro - seja o cigano na Hungria, o muçulmano em França ou o negro em Inglaterra - como forma de chamarem a si os elementos mais incultos da sociedade em que se inserem.
Não espanta que os Le Pen tenham conseguido chamar a si o antigo operariado, que dava outrora apoio ao Partido Comunista Francês e que, sem emprego e afastado das antigas vias de consciencialização pelos apelos de um consumismo alienante, não entendem agora como podem equiparar-se aos outrora tidos como miseráveis - os emigrantes!
Contactando diretamente com fascistas de diversos países, a dupla de realizadores demonstra, de forma eloquente, como existe sempre um discurso o mais primário possível, facilmente assimilável por quem só está à procura de bodes expiatórios para extravasar a raiva das suas frustrações.
Existem assim situações dramáticas, que justificariam intervenções mais explicitamente condenatórias do Parlamento e da Comissão Europeia. Porque existem ciganos sujeitos a progroms de autoproclamados Exércitos de Arruaceiros na Hungria ou habitantes de aldeias na antiga Alemanha de Leste, aonde neonazis se instalaram e os transformaram em carne para canhão das suas ofensas e agressões.
Ainda assim pode-se ver este documentário noutra vertente: a de que, em situações de crise como a atual, existe um extremar de tendências para os dois sentidos do espectro político. O que significa que esta gente inquietante não deixa de ter opositores à sua altura. Mas, como o demonstrou a realidade germânica dos anos 30, quando se trata de escolher aliados, a banca, os donos dos meios de comunicação e as igrejas optam invariavelmente pelo lado fascista.
Razão bastante para tentar esmagar o ovo que incubam, enquanto ainda está a incubar...

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