Numa altura em que o ideal europeu e/ou a construção europeia vai marcando passo, enquanto ganham inaudita dimensão as crispações identitárias e nacionalistas, diversos intelectuais liderados por Bernard Henri-Lévy, e entre os quais se contam António Lobo Antunes, assinaram um manifesto intitulado «A Europa ou o Caos? Reconstruir a Europa ou Morrer», que exige a inversão desta tendência para cercear o sonho.
Apesar de algumas reticências em relação a alguns dos signatários em causa, o manifesto merece uma atenção superlativa face aos impasses em que nos movemos. Daí que valha a pena conhecê-lo, mesmo que em tradução apócrifa e em sucessivas parcelas:
A Europa não está em crise, está a morrer. Não a Europa, enquanto território, obviamente. Mas a Europa enquanto Ideia. A Europa enquanto sonho e projeto.
Esta Europa de acordo com a celebrado espírito de Edmundo Husserl nas suas duas conferências pronunciadas em 1938, em Viena e em Praga, nas vésperas da catástrofe nazi. Esta Europa como vontade e representação, como quimera e como alicerce, essa Europa construída pelos nossos pais, esta Europa que soube converter-se numa nova ideia de Europa, que pode oferecer aos povos do pós Segunda Guerra Mundial uma paz, uma prosperidade, uma difusão de democracia inéditas mas que, a nossos olhos, está em vias de se perder.
Ela perde-se em Atenas, um dos seus berços, perante a indiferença e o cinismo das nações-irmãs. Houve um tempo, o do movimento filo-helénico, no início do século XIX, em que, de Chateaubriand a Byron de Missolonghi, de Berlioz a Delacroix, ou de Pouchkine ao jovem Victor Hugo, todos os artistas, poetas, filósofos, exprimiram-se em seu socorro e militaram pela sua liberdade. Estamos longe disso, hoje em dia, como se os herdeiros desses grandes Europeus não encontrassem melhor atitude do que humilhar, estigmatizar e de rebaixar esses Helénicos, quando eles se veem a contas com uma outra forma de decadência e de submissão, impondo-lhes um rigoroso plano de austeridade destinado a despojá-los dessa soberania, que eles inventaram outrora como principio inalienável. (…)
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