«Rumo a um cesarismo europeu» foi um artigo da autoria de Cédric Durand e Razmig Keucheyan, publicado na versão portuguesa do «Le Monde Diploimatique» do mês passado.
Nele os autores demonstram como a crise económica e financeira deu o ensejo às lideranças europeias para pôrem de lado todas as bonitas ideias de «Democracia» para assumirem um comportamento cada vez mais autoritário:
A crise económica aberta em 2007 revelou as contradições inerentes à construção europeia. Demonstrou, em particular, que a União se encostava a um regime político autoritário, suscetível de suspender os procedimentos democráticos invocando a urgência económica ou financeira.
Foi assim que, numa tradução alargada de uma célebre afirmação de Manuela Ferreira Leite, quando ainda era a presidente do PSD face ao Governo de José Sócrates, a União Europeia passasse a obrigar os devedores a vergarem-se à vontade de quem aparentemente paga as contas: o princípio segundo o qual «a soberania acaba quando acaba a solvabilidade» reduz à condição de quase protetorados os países que se encontram sujeitos a programas de assistência. Por isso mesmo em Atenas, Lisboa ou Dublin, os homens de preto da Troika impõem os conjuntos de medidas a adotar, mostrando assim as relações neocoloniais a que se veem submetidos os países da periferia.
Que nada disto é novo demonstram-no os autores ao citarem Gramsci, que designava como «cesarismo» a tal suspensão dos regimes democráticos em tempos de crise para darem lugar à afirmação de tendências autoritárias. A diferença em relação à época em que o filósofo italiano expressava essa tese, é que em vez de militar, esse cesarismo adota vestes burocráticas e financeiras.
Para Durand e Keucheyan deparamo-nos com duas alternativas: a escolha que agora se nos apresenta já não consiste em opor a continuação da construção europeia a um regresso à dimensão nacional, como os media dominantes e os intelectuais euro-liberais pretendem fazer-nos crer, mas sim em duas opções antagónicas: cesarismo ou democracia.
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