segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

TEATRO:«Timão de Atenas» no Teatro Municipal de Almada


Para o seu testamento Joaquim Benite legou-nos uma peça pouco conhecida de Shakespeare, mas que se mantém de uma atualidade insuperável. Timão, o nobre ateniense, vive rodeado de um imenso grupo de aduladores, que dele recebem fartos presentes. Porém, quando apesar dos esforços do seu procurador Flávio em refreá-lo nas suas beneméritas larguezas, fica na miséria, todos lhe viram as costas como se nem sequer o conhecessem.
Quantas metáforas possíveis do mundo de hoje são possíveis extrair desta história? Eu prefiro a mais atual: este sistema capitalista, que explorou até ao osso este povo, que foi por ele tão iludido, quanto este inocente Timão, quanto à sua bondade, vê-se agora abandonado à sua sorte, sem emprego nem dinheiro, como se só mereça ser expulso para as estranjas ou se apresse a morrer para não ser um fardo para os encargos caritativos, que se querem reduzir ao mínimo.
Timão é sobretudo essa classe média, que se deslumbrou com os fulgores deste sistema económico, que lhe prometia casa e carro próprio, férias nas Caraíbas e eletrodomésticos das gamas mais dispendiosas! 
Mas, agora vão-se as casas, os carros e todas as ilusões tão ingenuamente alimentadas, sem que se dê a devida atenção aos Alcibíades que se preparam para atacar a besta corrupta e iniciar nela uma outra realidade!
Para Timão (para essa classe média proletarizada ou mesmo transformada em lúmpen) já é demasiado tarde. Mas as trombetas dos exércitos atacantes já cercam as Citys e as Wall Streets e carregam as esperanças dos tais amanhãs que cantam há muito esquecidos.
Excelente trabalho de um grupo de atores, que nos proporcionou uma leitura positiva da evolução destes tempos de transitório desencanto.

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