É um fenómeno que anda a assumir dimensões preocupantes em várias latitudes, como o vão atestando as notícias das últimas semanas, mas com particular incidência nos países de cultura islâmica: o assédio sexual, que faz as mulheres adotarem a burqa, enquanto forma de proteção, está a remeter a condição feminina para tempos remotos, como seria impensável ainda não há muitos anos. Porque, por exemplo, no Egipto, aonde uma repórter da CNN chegou a ser violada em plena Praça Tahrir, há quem recorde mulheres egípcias de fato-de-banho nas praias em meados dos anos 30. Ou em Cabul, nos anos 60, as raparigas andavam pelas ruas de minissaia sem serem apoquentadas
Os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais têm sido culpados desse retrocesso civilizacional: ao conspirarem ativamente contra líderes apostados na laicização das suas sociedades - desde Nasser nos anos 60 até Saddam Hussein ou o agora proscrito Bashar al-Assad - todas as apostas do Pentágono e de Fort Langley têm coincidido na imposição de novas lideranças caracterizadas por uma determinada imposição da sharia. Que joga sempre em desfavor da mulher.
E, no entanto, há cinquenta anos seria crível a possibilidade de um Médio Oriente progressista dominado por regimes de intenções socializantes, que tinham um óbice de monta: eram decididamente contra um Estado de Israel ali implantado na sua região como imposição dos vencedores da 2ª Guerra Mundial.
Se na época o próprio Estado de Israel era dominado por forças de esquerda, desde Ben Gurion a Golda Meir, a evolução histórica precipitada a partir das estratégias imperialistas dos inquilinos da Casa Branca, terá criado uma situação em que a viragem à direita mais reacionária, quer judia, quer islâmica, se tornou inevitável. O que, se perspetiva à posteriori como um sucesso ideológico para as estratégias das marionetes a mando dos interesses financeiros de Wall Street e da industria do petróleo.
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