A blogosfera e as redes sociais continuam a servir de plataforma de propaganda aos que insistem na caracterização da política como espaço de afirmação de uns quantos ambiciosos, apostados em se assenhorarem do «tacho» ou do «pote» e enriquecerem ilicitamente no mais curto prazo possível.
A recente demissão de um secretário de estado, acusado do favorecimento de um familiar para emprego na câmara que dirigira, vem demonstrar como a sociedade portuguesa se tem progressivamente dotado de mecanismos de regulação e controle capazes de identificar, dificultar, e até bloquear, as aspirações de quem insiste nesse tipo de arrivismo.
Instituições como o Banco de Portugal, a CMVM, o Tribunal de Contas e os Tribunais Administrativos surgem, com influência crescente, a desmascarar e a punir os infratores por muito que eles se mostrem tão renitentes em aceitar essa nova realidade. Os macários, que prevaricam como se se mantivesse a lei do faroeste, vão descobrindo a impossibilidade de serem bem sucedidos, restando-lhes a saudade dos tempos em que os loureiros (dias ou valentins), os costas, os isaltinos, os limas e outros lídimos representantes do olimpo cavaquista iam-se valendo das falhas da nossa organização política e judicial para enriquecimentos, que são um ultraje às obscenas dificuldades em que o país foi mergulhado.
A esse titulo o jardim da madeira só pode ser visto como mera aberração do tipo de curiosidade de feira de monstros em vias de extinção, ao mesmo tempo que miguel relvas vai descobrindo à sua custa, quer na TAP, quer na RTP como a conjuntura virou, frustrando-lhes as jogas de chico espertismo em que se foi enleando.
É por isso mesmo que, voltando ao princípio, impressiona como tantos dos que defendem a viragem progressista ao rumo do país, ainda dão ouvidos e se fazem megafone das insidiosas campanhas do «correio da manhã» ou das execráveis cabalas de medina carreira com que, ideologicamente, se deveriam à partida incompatibilizar.
A História ensina-nos que a implantação de regimes autoritários, como os fascismos dos anos 20 e 30, do atual regime húngaro ou dos sucessivos Estados norte-americanos governados pelo tea party, fundamentou-se na suposta necessidade de regeneração de sociedades minadas pelos corruptos e pelos degenerados. Nesse sentido a atual sanha de Putin contra os homossexuais constitui um exemplo tradicional da manipulação dos preconceitos e dos instintos primários das camadas mais retrógradas das sociedades para levar por diante as legislações mais restritivas das liberdades públicas.
É a ilustração daquele conhecido texto atribuído a Brecht em que se começam por levar os comunistas, depois os socialistas, depois os ciganos, por fim os judeus, acabando-se por aprisionar os que ficaram impávidos e serenos a assistir à progressiva castração dos direitos das sucessivas minorias.
É por isso mesmo que, quando se atiçam umas almas inquietas em torno do suposto escândalo da reforma antecipada da Presidente da Câmara de Palmela, invocando o facto de se tratar de uma comunista - e que útil se revela denunciar a falsa moral dos comunistas, mesmo que por exemplo no caso de Sócrates, eles tenham primado por liderarem muitas das campanhas de assassinato de carácter contra ele instigadas! - a reação pública deveria ser de indignação por uma razão completamente oposta: como é possível que, ao fim de vinte anos de atividade a servir os cidadãos enquanto edil, uma pessoa cesse o mandato e fique sem sequer o recurso ao subsídio de desemprego?
Por um lado exige-se (e bem!), que seja irrepreensível no desempenho das suas funções, e por outro impede-se a sua sobrevivência quando as cessam.
É por isso mesmo que sempre defendi, e continuarei a defender, a justa remuneração dos cargos públicos, como forma de a eles atrair os mais competentes e os mais avessos a promiscuirem os bens coletivos com os privados em exclusivo proveito destes.
Razão, enfim, para insistir na denúncia das campanhas justiceiras, que recorrem frequentemente à calúnia e à difamação mais abjeta, como forma de preparem o terreno aos «impolutos» salvadores, depressa revelados enquanto horríveis Hydes saídos da casca dos atraentes paulos morais, desculpem Jekylls!!!
O papel da esquerda no regresso à condução dos destinos do país só poderá ser a do contínuo reforço dos meios de regulamentação das atividades económicas e financeiras e essa, sabemo-lo bem!, constitui uma linha fundamental de fratura com as perspetivas da direita por agora dominante!
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