domingo, 20 de janeiro de 2013

DOCUMENTÁRIO: «Into the Deep: America, Whaling & the World» de Ric Burns



O «Essex» levantara a âncora a 12 de agosto de 1819 e afundar-se-ia meses depois, abalroado por um cachalote, obrigando os sobreviventes a recorrerem ao horrível canibalismo.
Na época dourada da caça à baleia na América, a incrível tragédia que daria indesejada fama a esse navio e aos seus vinte e um tripulantes, ficaria nas memórias e inspiraria um dos mais famosos romances da literatura mundial: «Moby Dick»  de Herman Melville.
Baleias e cachalotes. Da cabeça à cauda tudo é desmesurado e parece incrível ao nosso olhar amedrontado, já escrevia Peleg Folger em 1754. Porque esses monstros dos mares, habituados aos sons e  mistérios das profundezas, nunca deixaram de fascinar, entre a violenta hostilidade e a simbólica marca da poesia.
As campanhas dos navios baleeiros e das suas arrojadas tripulações encarnaram o sonho americano, alimentando não só a economia norte-americana, mas também o seu imaginário. Porque, na época da Revolução Industrial e antes da descoberta do petróleo, as máquinas funcionavam e lubrificavam-se com óleo de cetáceos.
O horizonte era o único destino e onde residia a esperança de se vir a garantir apreciável fortuna. Da ilha de Nantucket à de Bedford, centenas de navios levantavam âncora para essas incertas campanhas ao encontro desses gigantes marinhos, que se esquartejavam e queimavam a bordo.
Por isso era necessário ir sempre mais longe e por mais tempo: as sofridas viagens eternizavam-se durante meses e a morte do animal subentendia um minucioso ritual.
A bordo as condições de vida eram infernais. E os combates eram sangrentos, exigindo qualidades físicas e precisão sobre-humanas. Porque na hora de desfechar o arpão, num derradeiro duelo com o monstro dos mares, eram os abismos, interiores e exteriores, que se abriam aos olhos do pescador.
Subsistem desenhos, quadros, imagens de arquivos e historiadores apaixonados por estas aventuras: e todos integram este documentário interessantíssimo, assinado por Ric Burns, que já conhecêramos enquanto coautor com o seu irmão Ken da série sobre a  Guerra da Secessão.

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