sábado, 12 de janeiro de 2013

POLÍTICA: como o Egipto se reacionarizou


Para Eric Rouleau a realidade política egípcia conheceria uma reviravolta de cento e oitenta graus com a derrota militar na guerra de Junho de 1967.
Nesse dia (5 de Junho de 1967) caíram na desonra todas as forças nacionalistas de esquerda  - nasseristas, baasistas, socialistas e comunistas -, que foram consideradas responsáveis pelo desastre militar e pela falência do sistema político. O desaparecimento da cena política destas correntes laicas deixou um vazio escancarado, no qual o islão político não tardou a precipitar-se.
Porque, perante esse desastre total, as pessoas aflitas procuraram refúgio na religião, tanto mais que os até então reprimidos clérigos explicariam o sucedido como punição divina devido à secundarização dessa vertente mística face à predominância de valores laicizados.
Foi nesse contexto que os Irmãos Muçulmanos surgiram da sombra como única força política com uma organização estruturada e dinâmica, tanto mais que da Arábia Saudita começaram a afluir apoios financeiros para a construção de mesquitas, de escolas corânicas e de associações islâmicas.
Nasser quase morre a seguir, sucedendo-lhe Sadate que pressente esse processo de islamização acelerada da sociedade e do Estado egípcios. E se nada podia fazer contra essa dinâmica, colou-se-lhe e procurou retirar dividendos dela.
Foi assim que a mutação completa-se em 1980 com a introdução na Constituição de um artigo que estipula o islão enquanto religião do Estado e a sharia como principal inspiração da sua legislação.
Que os EUA tenham sido os principais apoiantes dessa viragem de Sadate não admira: contra o «perigo vermelho», Washington não tinha qualquer dúvida em aliar-se ao obscurantismo islâmico, pensando manobra-lo da mesma forma que os seus amigos sauditas. Sem adivinharem que estavam a chocar o ovo donde surgiria a ameaça terrorista eloquentemente demonstrada com os atentados do 11 de setembro de 2001.

Sem comentários:

Enviar um comentário