Num livro escrito com Pierre Larrouturou, o antigo primeiro-ministro francês Michel Rocard propõe uma mudança de políticas, que faz todo o sentido para o nosso próprio país, quando este (des)governo cair e for sucedido por uma nova equipa ministerial mais decente e apostada no bem público.
«La gauche n’a plus droit à l’erreur» (A esquerda não tem mais margem para errar) pretende responder a esta crise que ambos os autores consideram muito distante do seu fim e manifestando um sustentado ceticismo quanto à receita de François Hollande apenas baseada na expectativa de um regresso miraculoso ao crescimento, entendido como única solução para o crescente desemprego.
Eis alguns dos extratos de um dos livros mais importantes deste início de 2013:
Uma crise mal gerida: “Todas as grandes derrotas resumem-se a uma fórmula muito simples: demasiado tarde”, costumava dizer o general Douglas MacArthur. Iremos também esperar por que seja demasiado tarde para compreender a verdadeira dimensão da crise, não só europeia, mas a nível mundial? Iremos esperar demasiado para que ataquemos-lhe as causas fundamentais e saibamos agir em função da dimensão dos perigos que comportam?
Neste início de 2013, a questão não reside em sermos otimistas ou pessimistas. A questão reside em deixarmos de nos comportar como avestruzes.
Relançar a Europa social: Para evitar que os países europeus não sejam tentados a sucessivamente imitarem o dumping social, devem-se aproveitar as atuais negociações para impor um verdadeiro tratado social europeu, que obrigue os vinte sete Estados membros a convergirem pelos padrões mais elevados em matéria económica de acordo com os critérios de Maastricht.
A falsa esperança no crescimento: Deveremos estabelecer os nossos orçamentos e políticas de emprego numa base de crescimento zero… O que será uma verdadeira revolução!
Habituámo-nos a confundir crescimento com progresso. Habituámo-nos a confundir crescimento com justiça social. Habituámo-nos a confundir crescimento com financiamento dos serviços públicos. O que não voltará a acontecer.
Não será do crescimento que virá a justiça social, mas virá sim de um suplemento de justiça social, a garantia da estabilidade económica e de prosperidade,
Daí que, para Rocard e Larrouturou, seja necessário relançar o debate sobre a duração do horário de trabalho. A crise decorre dos excessos de se querer sempre mais, da competição, da acumulação de bens materiais. A felicidade não se limita a ter dinheiro. É por isso que, sair da crise passa pela construção de uma sociedade de valores!
Por isso os autores defendem uma outra sociedade, menos mercantil e mais orientada para os tempos livres. Que passe por reduzir o desemprego mediante horários de trabalho mais reduzidos.
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