Quando ouvi uma jornalista do Expresso em entusiástico autoelogio pela entrevista concedida por Alexandre Soares dos Santos ao suplemento de Economia desta semana vi tão sublinhada a sua opinião negativa sobre José Sócrates, que me senti logo tentado a ler essa peça e dizer dela todo o mal possível.
É que, quando se trata de José Sócrates eu sou de um fundamentalismo absoluto: reconhecendo-lhe alguns erros, não deixo de admirar a determinação com que tentou promover este país subdesenvolvido a líder em áreas de inegável futuro para as quais valia a pena tomar a dianteira do pelotão (investimentos na investigação científica, nas energias renováveis, na melhoria dos indicadores de educação e de saúde dos portugueses, etc.)
Tivesse contado com uma conjuntura favorável, como foi por exemplo aquela com que Cavaco Silva contou logo que Mário Soares fez entrar Portugal na Comunidade Económica Europeia (e se passaram a receber os então avultadíssimos apoios financeiros) Sócrates teria lugar garantido como político mais importante do século XXI português. Azar o seu!, teve de levar com os efeitos da crise financeira importada a partir de Wall Street, precisamente quando recuperara o défice herdado do governo em que Manuela Ferreira Leite fora ministra das Finanças.
Por isso, quando o merceeiro do pingo doce reduz Sócrates a um homem que não ouvia nada, megalómano, mentiroso, mesmo que acrescente a seguir a palavra inteligente, só podemos desconsiderar a sua opinião. Tanto mais que emprega com entusiasmo essas luminárias chamadas antónio barreto ou antónio borges ou considera como ministro superinteligente um álvaro santos pereira em quem admira enquanto tipo que sabe pensar.
Mentiroso foi passos coelho, quando andou a preparar o assalto ao pote negando a evidente importância dessa conjuntura exterior naquela que o país então sofreu e precipitada pela camarilha dos banqueiros associados a teixeira dos santos. Assim, se Sócrates é “mentiroso” o que será passos coelho que tantas promessas falsas fez e todas rasgou tão só chegado a São Bento?
Podemos concordar com ele, quando considera que os atuais ministros (e portanto o mesmo álvaro) não conhecem a vida, falta-lhes experiência, nunca pagaram impostos como os empresários, nunca pagaram salários.
Mas este explorador dos baixos salários pagos aos seus trabalhadores e dos hiperminimizados pagamentos aos seus esmagados fornecedores, continua a ter uma visão autista do país em que vive, porque começa por afirmar com o máximo despudor: Sinto-me feliz por ver que o meu país tem um nível de vida para todas as pessoas razoavelmente bom.
Para tão absurdo retrato do quotidiano dos portugueses pode haver uma explicação por ele revelada em primeira mão: Tenho um pacemaker colocado pelo Estado, que não me custou nada!.
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