Há uns quinze anos vivi uma experiência inolvidável quando, a bordo de um navio de bandeira nacional, naveguei no canadiano Rio São Lourenço em pleno inverno com quebra-gelos a abrir-nos caminho para os portos a escalar.
Lá fora o frio era intensíssimo, muito para além dos 20ºC negativos e toda a paisagem pintava-se de branco, exceto quando alguma cidade ou vila desfilava nos dois bordos do navio.
Independentemente de todas as dificuldades vividas então, guardei imagens que, dificilmente, irei esquecer. Mas que pude consolidar com o documentário «Quebra-gelos do Ártico» de Wolfang Mertin.
No «Ivan Papanine», que colabora no esforço de dar sequência aos recursos naturais extraídos da região russa mais rica e de os fazer chegar aonde eles serão utilizados ou comercializados, a tripulação conta com vinte e dois homens e três mulheres, que têm consciência muito viva de como tudo está a mudar por efeito do aquecimento global.
Aonde se viam temperaturas de 0ºC em abril, como agora sucede? Ninguém duvida das previsões, que dão o Ártico completamente liberto de gelos permanentes daqui a menos de cem anos.
Quanto ao quebra-gelos, o «Artika», é um dos oito navios desse tipo movidos a propulsão nuclear, que possibilita a navegação marítima nos portos setentrionais nos doze meses por ano, mesmo quando a espessura do gelo à superfície alcança os quatro metros de espessura. Neles os reatores geram o vapor, que impulsionam as turbinas a que estão acoplados os motores elétricos que fazem rodar as hélices. E prestam um espantoso serviço adicional: se no São Lourenço eu via pescadores no meio do gelo a capturarem peixes nos buracos cavados ali à volta do sítio por onde passávamos, no caso do mar siberiano encontramos «paragens» no meio do nada aonde entram passageiros, que apanham o navio para se deslocarem entre os portos previstos para o seu percurso.
Uma boa experiência visual reveladora de uma realidade interessante...
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