Inteligência superlativa é como podemos designar o que vimos no palco do Maria Matos durante a excelente peça de Antoine Defoort e Halory Goerger. «Germinal» já vinha acompanhada de todas as críticas encomiásticas, que dela faziam uma das melhores propostas teatrais francesas do ano passado e o que nos foi oferecido correspondeu perfeitamente a tal expetativa.
Começamos por ter quatro atores cingidos ao espaço quase quadrado do palco. Como se representassem o início da Humanidade, quando se tratou de passar da mera sobrevivência para a expressão da comunicação, primeiro das palavras, depois dos pensamentos.
A seguir tudo quanto ganha um nome a designá-lo, trate-se de um conceito concreto (o que faz poc-poc), seja abstrato (o que não faz poc-poc) começa a ser comparado e integrado em categorias. Que vão sendo projetadas no grande ecrã em que se converte a parede de fundo.
Só que, às tantas, depois de parecerem estar a controlar tudo quanto vão descobrindo os quatro protagonistas concluem que tudo começa a ser demasiado confuso e coloca-se a questão de recomeçar do zero ou de recorrer a uma empresa externa capaz de sistematizar aquele caos insolúvel. Mas, porque não têm dinheiro, nem o querem acrescentar ao pacote oferecido por tal prestadora de serviço, eles são remetidos para o manual, ou seja para o computador ali subitamente descoberto. E chega-se assim ao menu projetado na parede do fundo, que permite chegar a outro conceito em que não tinham pensado: o de finitude.
Nessa altura já o palco, que começara vazio de objetos cénicos, tinha-se transformado num caos cheio de buracos, num dos quais até surgiu um pântano onde eles se deram ao prazer de um banho. Porque essa é outra descoberta, a do lúdico depois de já se ter passado pela da música.
Com a aceitação da realidade de tudo ter um início e um fim, assim se conclui esta História da nossa civilização em oitenta minutos, que decorreram num crescendo até ao apoteótico final...
Sem comentários:
Enviar um comentário