Para quem pretenda estudar o fenómeno comunista, e compreender as razões para o seu insucesso nas diversas formas como foi testado na prática, vale a pena ver como é que Marx e Lenine analisaram as crises do sistema capitalista que, ambos, consideravam passível de vir a ser substituído por relações sociais e políticas mais justas e igualitárias.
Antes de se tornar no líder da Revolução Bolchevique, Lenine procurou compreender a natureza da acumulação de capital na sociedade capitalista. No seu contexto desenvolve-se a procura interna suscitada pela interligação entre os meios de produção e o mercado. Ao verificar-se um crescimento da produção, também essa procura e esse mercado tendem a crescer. Mas, ao contrário do que sucederia numa economia planificada não existe uma dependência biunívoca entre a procura e a produção. As crises do capitalismo decorreriam precisamente do desajustamento por defeito ou por excesso dessa procura em relação às mercadorias produzidas.
Surge aqui uma distinção significativa entre o que Marx propunha (as crises seriam provocadas pelas condições da produção) e a lógica defendida por Lenine, que se aproxima muito mais das teorias clássicas de David Ricardo: as crises capitalistas estariam relacionadas com a anarquia verificada nos processos produtivos dos capitalistas.
Publicado em 1899, «O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia» expõe os resultados dos estudos realizados por Lenine durante seis anos sobre a economia do seu país. E conclui que, à medida que o mercado e o capitalismo se vão desenvolvendo cresce a diferenciação social nos campos da Rússia dos czares. No entanto ele só se interessa pelo período posterior à reforma de 1861, não levando em conta a comuna russa e mal abordando o papel do investimento estrangeiro.
Pode-se considerar que, por essa altura, as conclusões de Lenine ainda pecavam por alguma incoerência não chegando a pôr em causa o bem mais sólido conteúdo teórico legado por Karl Marx.
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