Em fevereiro passado a esquerda italiana não conseguia definir a agenda política devido ao boicote do palhaço Grillo e à sobrevivência do fenómeno berlusconiano. Depois do desastre, que tinham representado os resultados das legislativas do ano passado, vivia-se num ambiente pantanoso com um primeiro-ministro voluntarioso - Enrico Letta - mas incapaz de ir mais além do que a mera gestão corrente dos assuntos de Estado.
Ora foi nessa altura, que Matteo Renzi decidiu acabar com esse impasse, cada vez mais favorável ao populismo, e assumir as rédeas da governação.
Não faltaram então discursos muito semelhantes aos que, nesta altura, se ouvem dos apoiantes de António José Seguro: traição, comportamentos avessos à satisfação das regras administrativas, etc.
Mas os resultados estão aí: em apenas três meses o Partido Democrático superou os 40% nas eleições europeias e ficou à frente em 107 das 110 províncias nas regionais. Há décadas, que não se assistia a uma vitória tão retumbante de um só partido e, para a esquerda, até teve foros de ineditismo.
Muito embora ainda se justifiquem algumas dúvidas sobre se as suas ideias políticas serão as mais ajustadas para a esquerda europeia nesta altura, Matteo Renzi veio mostrar como é que a esquerda pode reaprender a vencer, como intitula Jorge Almeida Fernandes um artigo de opinião do «Público» sobre este fenómeno. Porque tem carisma, não se perde numa retórica redonda sem novidades e mostra ideias claras quanto ao caminho a percorrer pelo povo italiano para se livrar de anos de crise, não só suscitados pela conjuntura internacional, mas também pela incompetência dos governos de Berlusconi.
O que se constata hoje em Itália? Aqueles que desacreditavam da política e se sentiam tentados pela abstenção ou pela demagogia dos que apenas apostam no quanto pior melhor, decidiram dar o seu apoio a Renzi, que contou com mais 2,5 milhões de votos do que Bersani em 2013.
É um choque deste tipo o que mais é necessário ao Partido Socialista e ao país no seu todo: e se os portugueses estão ansiosos em encontrar quem lhes dê a vislumbrar uma luz ao fundo do túnel, que não seja a do comboio em sentido contrário ao seu.
António Costa poderá encarnar essa esperança num futuro bem melhor do que os 20 ou 30 anos de sacrifícios, já prometidos por cavaco silva e pelos “economistas” da corrente austeritária, que tanto apreciam a desgovernação de passos coelho...
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