sexta-feira, 16 de maio de 2014

IDEIAS: Ovídio ou a Solidão do Exílio

Em Ovídio a solidão surge como castigo, pois viu-se afastado dos seus depois de condenado por Augusto a exilar-se confins do mundo então conhecido, ou seja nas margens do mar Negro, aonde viviam as tribos trácias dos Getas e dos Sarramatas.
Tomes, como então se chamava esse lugar, é a atual Constança, que fica no delta do Danúbio na fronteira entre a Roménia e a Ucrânia.
A viagem de Roma para ali foi uma sucessão de provações pontuadas por violentas tempestades. Ele vê-se a passar o Styx, como se a vida lhe estivesse a ser arrancada.
Começando por odiar essas paisagens do Ponto, Ovídio irá aceitá-las pouco a pouco num fatalismo, que jamais dilui o desespero de quanto perdeu. Em primeiro lugar da sua terceira mulher, aquela que verdadeiramente amara e cuja permanência em Roma se explicava pelas tentativas para lhe conseguir o perdão imperial. E cuja silhueta imagina ali a aproximar-se pela praia deserta.
É para ela que escreve a maioria das mais de cem cartas desesperadas, que levam seis meses a chegar ao destino e outros tantos para vir devolvida a resposta. Nelas também se identificam as outras razões para se sentir tão solitário: o local de exilio não tem pássaros a cantar, os campos vazios constituem uma tortura mental quando comparados com a Roma dos jardins, das vinhas e das fontes. O que ele vê é um mar sem sol, águas envolvidas pelos ventos, o horizonte vazio, as planícies por cultivar e por ninguém reclamadas.
Ele que fora tão festejado e tão pródigo em participar na vida social da capital do Império, descobre-se impossibilitado de comunicar. Por isso mesmo escreve para si mesmo.
Nunca se encontrando o túmulo onde terá sido sepultado, Ovídio é um exemplo lapidar da escrita como resposta à dor do exílio.



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