domingo, 11 de maio de 2014

POLÍTICA: ter uma Visão própria ou reagir à do (des)governo?

No «Eixo do Mal» o Daniel Oliveira emitiu uma excelente pista para explicar a razão, porque o Partido Socialista liderado por António José Seguro não consegue entusiasmar os seus potenciais apoiantes mesmo que as sondagens o tendam a aproximar da maioria absoluta em 2015, uma possibilidade não tão improvável quanto alguns querem fazer crer.
Segundo o colunista do «Expresso» o líder socialista não tem uma visão própria para o futuro do país limitando-se a ir reagindo aos “sucessos” e dissabores do governo, caindo por isso nas emboscadas, que os spin doctors do PSD e do CDS não deixam de ir armadilhando com a conivência tácita do inquilino de Belém.
E, de facto, essa é uma das duas grandes diferenças entre o Partido Socialista de hoje e o da liderança anterior: em 2005, quando foi consagrado primeiro-ministro com a maioria absoluta, José Sócrates sabia bem ao que ia. Tinha o projeto de criar um país mais moderno e desenvolvido, que obrigava a apostas sérias no investimento na Educação (os Magalhães e o inglês desde o ensino primário), na Requalificação dos Recursos Humanos (Novas Oportunidades), na Investigação Científica, nas Energias Renováveis e na Reforma Administrativa (o Simplex). Nas exportações havia que procurar novos mercados para além dos que tradicionalmente as orientavam para os países da União Europeia e por isso não hesitava em promover o relacionamento com a Venezuela de Chavez ou com a Líbia de Kadhafi. E poderíamos prosseguir uma exaustiva descrição de tudo quanto de bom se estava a promover para que o país deixasse a imagem salazarenta do «pobres mas honrados», mas o texto ganharia então uma dimensão, que não se justifica para salientar o essencial: ao contrário do seu antecessor, desconhece-se o que António José Seguro quer para o país.
Como socialista - e sei que esta sensação é partilhada por muitos, mas mesmo muitos militantes de quotas em dia! - preferira que António José Seguro tivesse sido um defensor inabalável da herança anterior o que o colocaria agora na mais convincente posição de propor a retoma do projeto entretanto quase destruído pela política de terra queimada da atual coligação. Só teria tido, então, de demonstrar aquilo que é uma evidência cada vez mais óbvia para a maioria dos portugueses com dois dedos de testa: que a crise de 2009 nada teve a ver com o “despesismo” ou com excessivo investimento público, mas com os mesmos fatores externos, que agora são tão aleatórios a propiciar juros baixos quanto então os levavam a valores super especulativos (muito embora essa suposta aleatoriedade possa ser contornada pela lógica da fuga ou não de capitais para os tais países emergentes) .
Mas a outra grande diferença de Sócrates para António José Seguro reside em quem os secundava ou secunda. Enquanto o anterior primeiro-ministro tinha consigo gente de grande qualidade intelectual e irrepreensível competência técnica, que raramente cometeu trapalhadas como as deste (des)governo, é com preocupação que se encara a possibilidade de alguns dos atuais porta-vozes do Largo do Rato chegarem a  ministros ou a secretários de Estado.
Que serão bem melhores do que os de passos coelho ou de paulo portas não tenhamos dúvidas. Mas não nos podemos contentar com padrões tão rasteiros quantos os deixados por cratos, cristas e companhia. Porque, depois do cataclismo que tem destruído a economia nacional, a construção torna-se muito mais difícil e exigente do que a perspetivada por José Sócrates, quando teve de remover os escombros deixados por durão barroso e santana lopes.
Torna-se, pois, desejável que o PS venha a ter maioria absoluta em 2015, mas convirá que Seguro saiba congregar em torno de si os melhores. E, como se viu na lista para as europeias, se isso foi visível nos primeiros sete ou oito candidatos, tornou-se muito mais questionável para os que se lhes seguiram...


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