Dos muitos textos ontem lidos a respeito dos efeitos subsequentes às eleições de domingo o mais interessante foi o de André Macedo no suplemento «Dinheiro Vivo» do «Diário de Notícias». Posicionando-se num hipotético futuro próximo o jornalista elogiava o desprendimento com que António José Seguro encarara os resultados obtidos pelo Partido Socialista e abria, de motu próprio, o caminho para a sua sucessão.
Com esse gesto o ainda secretário-geral do Partido Socialista estaria a compreender que é ele o problema e não a solução no imbróglio de se definir se os socialistas voltam ou não a ganhar eleições legislativas em 2015 e se os portugueses passarão a contar com um governo capaz de encetar a tão necessária recuperação do terramoto, que a dupla passo-portas tem representado nestes três anos.
Desejavelmente, António José Seguro deveria reconhecer, que o anúncio da disponibilidade de António Costa para liderar o partido equivale àquele inolvidável momento do Congresso de 2011 em que o atual autarca de Lisboa estava a dar uma entrevista à TVI e ele irrompeu pelo estúdio obrigando-o a retirar-se. Só que a cena previsível é agora a contrária: Seguro está sentado na cadeira a perguntar qual a pressa para se tornar no verdadeiro líder por que anseiam os portugueses e eis que ele se perfila perante resultados tão pífios, que só a corte do Rato quis ver como vitória estrondosa.
Abre-se, pois, um novo ciclo político bastante mais exaltante por muito que os belezas, os brilhantes e os carneiros tentem travar a onda, que os ameaça submergir. Eles não entendem que, tendo querido superar aqueles que tanto sabotaram e desdenharam - os que integraram os governos de José Sócrates - jamais assumindo orgulhosamente a sua herança, só se revelaram mesquinhos e medíocres com os resultados “radiosos” agora comprovados.
Com António Costa haverá a possibilidade de recuperar a imagem perdida do que devem ser os socialistas nestes momentos difíceis: aqueles que não se conformam com o facto de a crise económica e financeira de 2008 e a direita subordinada às ideias cripto-fascistas de Hayek terem devastado o país.
Seguro nunca quis assumir que, com o governo de Sócrates, Portugal estava a modernizar-se e a crescer com rigor orçamental (quem pode negar que tendo recebido um défice de 6,8% do governo de santana lopes em 2005, o PS conseguiu chegar a menos de 3% em apenas três anos?) com a investigação científica e a qualificação dos recursos humanos a constituírem a prioridade de quem confiava nas energias e no talento dos portugueses.
Agora os sinos já dobram a finados pela desafinação, que foi o seu desempenho enquanto secretário-geral!
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