segunda-feira, 12 de maio de 2014

POLÍTICA: revisão da matéria dada em 10 pontos

Não é que Philippe Legrain venha trazer grandes novidades ao que já se sabe sobre as políticas europeias nos últimos anos, mas o facto de ter sido conselheiro de durão barroso durante três anos garante uma fidedignidade irrepreensível ao que revela na entrevista concedida a Isabel Arriaga e Cunha no «Público» de 11 de maio. E o que, em síntese, ele afirma?
1. que a causa maior para a crise por que temos passado tem a ver com o total domínio, que o setor bancário tem exercido sobre os governos europeus;
2. que, por isso mesmo, em vez de pensar prioritariamente nos seus cidadãos, esses mesmos governos preocuparam-se essencialmente com os interesses desse mesmo setor bancário;
3. que a explicação para essa ligação promíscua entre governos e bancos tem a ver com o facto de os principais políticos serem provenientes desse setor ou para lá quererem ir trabalhar depois de cessadas as suas funções;
4. que, renitente ao princípio, angela merkel cedeu às pressões dos franceses Trichet (então no BCE), Strauss-Kahn (no FMI) e Sarkozy (no Eliseu), que ficaram assustados com os efeitos da crise nos bancos do seu país. Associaram-se-lhes então os banqueiros alemães de modo a que a chanceler cedesse à estratégia do seu ministro das finanças e do presidente do Banco Federal Alemão.
5. a Comissão e os seus altos funcionários não tinham a menor experiência para lidar com uma crise. E não existiam mecanismos para lidar com a crise e, por isso, a gestão processou-se necessariamente, sobretudo, através dos Governos.
6. depois, o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores.
7. a consequência da estratégia austeritária foi um rol de recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas.
8. Portugal está bem pior do que antes do programa, e a dívida privada não caiu.
9. outra consequência foi o aproveitamento dos burocratas de Bruxelas para ganharem poder passando a obrigar os países a fazer coisas que não conseguiram impor antes.
10. transformou a natureza da União Europeia, que passou de uma comunidade voluntária entre iguais para esta relação hierárquica entre credores exercendo o seu controlo sobre os devedores.


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