Um dos momentos mais surpreendentes nas reportagens televisivas sobre a campanha eleitoral para a as europeias ocorreu logo no primeiro dia, quando nuno melo interpelou um anónimo cidadão, que lhe recusara o material de propaganda, e o desafiou a dizer se estava melhor com o governo de José Sócrates. Ouviu, obviamente, aquilo que não estava à espera, ou pelo menos, o que desejaria que as televisões tivessem silenciado. Porque a surpresa veio daí mesmo: não tanto da reação perfeitamente natural do cidadão em causa, mas que ela tenha passado pelo «filtro» das chefias de redação dos telejornais.
Justifica-se questionar se, depois de muitos meses a fio a apostarem na manipulação de forma a sempre beneficiar o governo, não estará a crescer - mesmo entre esses responsáveis pelo tipo de notícias que chegam aos portugueses ou deles são escondidas -, uma sensação de já não poderem conter a tendência crescente para a realidade nua e crua impor-se nos telejornais.
Valerá a pena estar atento até que ponto os indicadores do INE ou de outras instituições continuarão a ser «lidos» de acordo com as ilusórias aparências ou pelo que, efetivamente, revelam de um país manifestamente pior do que estava há três anos.
É que vão-se detetando outros sinais de mudança no horizonte: um cavaco silva, que só consegue reunir para as suas «iniciativas» um número progressivamente mais reduzido de indefetíveis representantes da «brigada do reumático»; uma ausência confrangedora da jota laranja dos passeios solitários de rangel e melo por cidades onde a direita costumava concitar maiores votações; ou as declarações de desagrado de muitos patrões, que veem mota soares ou passos coelho a protagonizarem batalhas, que não sentem propriamente como suas em torno da contratação coletiva ou dos despedimentos sem justa causa.
Algo está podre no reino cavaquista-passista e a mudança, embora muito mais morosa do que esperaria, está a aproximar-se...
Sem comentários:
Enviar um comentário