Não é difícil encontrar na rua ou nas redes sociais quem emita a possibilidade de, apesar de tudo quanto tem feito nestes três anos - mais apropriadamente dever-se-ia dizer “desfeito” do muito que de positivo lhe deixara o governo de José Sócrates - passos coelho vir a ganhar, se não as eleições europeias de 25 de maio, pelo menos as legislativas de setembro do próximo ano.
Até a cada vez mais irritante Clara Ferreira Alves (cuja sanha ao Partido Socialista começa a parecer um caso patológico) não passa uma semana sem perspetivar essa hipótese no canal Q ou no “Eixo do Mal”.
E, no entanto, a realidade dos números vai-se sobrepondo à forma como vão sendo objeto de manipulação propagandística por parte dos altifalantes do poder.
Começando pelo caso emblemático do desemprego que teria descido para os 15,1% no primeiro trimestre de 2014 de acordo com os números do INE. Ora, de facto, aquele organismo registou uma diminuição do número de desempregados para 788,1 mil indivíduos, mas outros e elucidativos dados apresentados no mesmo estudo bastam para arrasar a propaganda do governo:
· a redução de 61,8 mil pessoas na população ativa;
· a redução de 42 mil pessoas com trabalho;
· o total de 313,9 mil pessoas inativas, que desistiram de procurar trabalho, apesar de o não terem, e terem deixado de contar para a estatística
Mas, além de enfrentarem uma elevada taxa de desemprego e de precarização dos seus postos de trabalho, os portugueses também estão assoberbados de impostos. Eis os números que comprometem o foguetório governamental:
· até Março entraram para os cofres do Estado mais 366,8 milhões de euros de receita de impostos do que no mesmo período do ano passado. 294,8 milhões vieram do IRS.
· no primeiro trimestre, a receita desse imposto totalizou 3298 milhões de euros (mais 9,8% em termos homólogos), aproximando-se do valor obtido com o IVA (3596 milhões de euros), que se mantém como o imposto onde o Estado vai buscar mais receita.
E, que dizer do silêncio sobre o “êxito” das exportações no 1º trimestre deste ano, que apenas cresceram 1,7% em comparação com o de 6% para as importações, num agravamento significativo da balança comercial do país, onde as vendas internacionais só passaram a cobrir 81,9% daquilo que o país compra ao estrangeiro.
Quem é que ouviu algum ministro ou comentador a soldo do governo voltar ao tema do “milagre económico” relacionado com tais exportações?
Sobram, pois, as razões para algum otimismo quanto à inevitável condenação eleitoral de passos coelho e de paulo portas. É que é possível enganar muitos, durante algum tempo. Mas, qual azeite, a verdade vem sempre o de cima. E com números destes, decerto que tal se verificará...
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