É verdade que Odilon Redon nasceu em Bordéus, mas o pai vivera longos anos em Nova Orleães onde, enquanto colono, conseguira acumular alguma fortuna.
Confiado aos cuidados de um tio, Redon passa a infância na quinta de Peyrelebade, nas Landes, rodeado de florestas selvagens e pântanos.
Aos vinte anos ele vai para Paris, mas não encontra qualquer satisfação, nem no curso de arquitetura, nem nas aulas do pintor académico Jean-Léon Gérome.
Dez anos depois é mobilizado para a guerra entre a França e a Prússia e, aos quarenta anos, casa com uma jovem crioula, Camille Falte. É só a partir daí que se sentirá mais seguro na sua produção artística, encorajado por outro artista solitário, Rodolphe Bresdin.
Pouco a pouco as suas litografias distribuídas em edições de 25 ou de 50 exemplares começam a ter sucesso junto de colecionadores mais argutos.
Entre elas contam-se «Dans le Rêve», «À Edgar Poe», «Les Origines», «Hommage à Goya», «La Nuit», «Songes», «La Maison Hantée» (imagem ao lado). A última série é dedicada a evocações de «La Tentation de Saint Antoine» de Flaubert e do Apocalipse.
Este criador de monstros teve uma vida muito calma e uniforme. Passava os verões em Peyrelebade, no mesmo sítio onde, na infância, conhecera a angústia e a inquietação e que, após a morte do pai, passara a ser, em parte, seu.
Trabalhava nos seus carvões, que ele designava como «as minhas pinturas negras»; no inverno voltava para Paris e retomava os seus trabalhos estivais, dando livre curso à sua imaginação visual, afinando-os até se equiparando às suas elogiadas litografias anteriores.
Joris-Karl Huysmans comentaria que esses trabalhos eram o melhor exemplo da decadência. Para Redon, Peyrelebade era a sua base de inspiração e de produtividade.
Na última década do século XIX ele perdeu essa propriedade mas, na época, ele já superara as suas angústias. Tudo se transformara entretanto. O seu ciclo sombrio estava fechado: estavam acabados os carvões e as litografias, bem como as visões tenebrosas que implicavam.
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