quarta-feira, 2 de abril de 2014

FILME: FILME: «Lá virá o dia» de Susanne Schneider (2009)

Judith e Jean Marc Muller têm uma exploração vitícola na Alsácia, muito perto da fronteira com a Alemanha, e que já há quatro gerações está nas mãos da família dele. Entusiastas da agricultura biológica, militam contra os OGM’s, que ameaçam vir a implantar-se nas redondezas.
Embora os filhos adolescentes lhes criem os problemas próprios da sua idade, pode-se dizer que a vida lhes corre razoavelmente bem muito embora as dificuldades económicas os levem a ter de pedir um empréstimo aos pais dele.
Tudo irá mudar, quando o retrato de Judith aparece na primeira página de um jornal, onde se enaltece a luta ecologista em que ela se empenha. Dias depois chega-lhes à quinta uma jovem alemã, Mia, que depressa se denuncia como a filha  a quem Judith abandonara, quando, trinta anos antes se vira forçada a optar pela clandestinidade. Eram então os anos de chumbo em que a guerrilha urbana apostava nos assaltos a bancos como formas de financiamento da atividade subversiva. Ora, num dessas ações, em que Judith participara, um homem acabara assassinado.
Agora, Alice (o verdadeiro nome de Mia), que nunca perdoara à mãe ter sido deixada para trás, vem para se vingar.
Ao propor a Iris Berben esse papel fictício de uma antiga terrorista, a realizadora optou por uma evocação íntima desse passado turbulento na vida alemã, cingindo-se aos efeitos psicológicos do desmascaramento de uma identidade falsificada.
O confronto da antiga militante com as interrogações da geração atual remete para o ressurgimento do militantismo revolucionário no anticapitalismo dos nossos dias, muito embora subsista uma incompreensão dos que agora vivem na insatisfação do presente estado de coisas em relação aos métodos e estratégias dos que os tinham antecedido. Mas a antiga militante convoca os argumentos da prescrição e da redenção para impor a lógica do respeito que lhe é devido.
Não existirá aqui qualquer tentação de nos tranquilizar com um happy ending. No final a família Muller estilhaça-se e Alice não parece ter ficado particularmente feliz com o resultado da sua perversidade. A sua expressão final, enquanto se afasta de vez da progenitora abandonada à beira de uma estrada alemã, é a de quem ficou perplexa com as contradições de uma vingança, que se virara afinal para a revelação da sua verdadeira e maligna personalidade.



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