segunda-feira, 28 de abril de 2014

DOCUMENTÁRIO: «Sobre la Marxa» de Jordi Morató (2014)

Singular é, no mínimo, a designação, que podemos atribuir ao catalão Josep Pujiula, conhecido através deste documentário trazido a concurso do Festival Indie pelo seu realizador.
Enquanto objeto cinematográfico, “Sobre la Marxa” não tem grande mérito, limitando-se a colar - nem sempre com a almejada competência! - diversos  filmes rodados ao longo dos anos por amigos do Tarzan de Argelaguer. Mas a personalidade deste merece, de facto, o nosso espanto. Porque é raríssimo encontrar quem nunca quis crescer, optando por continuar a brincar de acordo com os seus mirabolantes sonhos.
É claro que Garrell possui uma disfuncionalidade cerebral, que justificaria o seu comportamento traduzido em manter-se continuamente em movimento no seu afã de construtor.  Numa floresta junto a movimentada autoestrada foi construindo os cenários, que seriam adequados para aí viver o seu herói da selva. Depois, graças a um jovem cativado por tais sonhos, conseguiu filmar sucessivas aventuras em que sobressaía a  incessante luta contra as agressões da civilização, que ameaçavam o seu projeto. Mesmo que, generoso, ele não visse obstáculos a que miúdos e graúdos viessem visitar e admirar aquele parque de aventuras informal.
Garrell vai ser uma espécie de David contra os Golias, que o hão-de derrotar por três vezes, obrigando-o a queimar as casas e os labirintos tão engenhosamente edificados. Primeiro foram os vândalos, que passaram a destruir gratuitamente tudo quanto ele ia construindo. Depois foi o traçado da autoestrada, que se estendeu para a zona da floresta por ele utilizada. E, enfim, a polícia e a Câmara local, que lhe proíbem o afã pelos riscos de segurança de construções bem mais sólidas do que aparentavam.
Em alternativa, e já que o não deixavam construir os seus projetos à superfície, Garrell optou por escavar a terra, retomando a sua costumada desmesura e criando galerias com mais de vinte metros de comprimento.
Uma historiadora de arte norte-americana, que veio à Catalunha conhecer a sua obra, não hesitou em reconhecê-la como genial no contexto da «outsider art», mas mais do que esse reconhecimento canónico, Garrell continua a ser, aos 76 anos, o idoso que nunca perdeu a vontade de ser menino. E que deixa uma valiosa lição de vida: para quê lamentarmo-nos daquilo que tivemos, e logo perdemos, se podemos avançar porfiadamente para a sua reconstrução a partir de novo início. Começar de novo - eis uma regra que Garrell nunca abandonou!



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