terça-feira, 8 de abril de 2014

IDEIAS: A Europa deixou de inovar? (1)

Segundo Ben Scott, do Open Technology Institute em Washington e antigo colaborador de Hillary Clinton, já só existe génio inventivo nos Estados Unidos. É esse o seu credo provocador.
As inovações, que equivalem a intervir no quotidiano com o objetivo de o mudar e melhorar, exigem um processo. O mesmo que levava Arquimedes a olhar para o que o rodeava e a soltar o seu famoso «eureka», quando encontrava soluções para aquilo que os outros, os seus contemporâneos, ainda nem vislumbravam a necessidade.
A questão pertinente lançada por Scott é a de confirmar se, devido ao seu pragmatismo, os norte-americanos não serão mais fortes nas ciências aplicadas? Pelo menos ainda durante uns tempos, já que os asiáticos estão à espera de ver chegada a sua vez…
Os europeus, a seu ver, estarão mais vocacionados para a investigação teórica
Para Scott o que define qualquer empresa norte-americana é a ambição, que alimenta a convicção segundo a qual podemo-nos levantar de manhã e inventar algo que nos vai tornar milionários. Quando são muitos milhares a assumirem essa possibilidade, cria-se um tipo de cultura, que estimula a inovação.
Pelo contrário para Denis Cavallucci, professor no INSA de Estrasburgo, se os norte-americanos têm uma ideia inovadora e logo avançam para o investimento, os europeus preferem refletir nas reais possibilidades de terem sucesso com o que possam criar. Perdem a espontaneidade por adotarem uma ponderação mais estruturada, mas conseguem equivaler-se a eles na criação de ideias com Valor.
Ben Scott defende que outra vantagem do modelo de inovação norte-americano é a tolerância para com o fracasso. Multiplicam-se os exemplos de inovadores de sucesso, que trazem no historial uma longa sucessão de fracassos. Por isso pensa-se que o fracasso não significa incompetência, mas ao invés, a demonstração em como se é ambicioso, em como se possuem as qualidades necessárias a alcançar o sucesso.
Essa cultura do fracasso não existe na Europa: se se tem uma empresa e ela cai na falência, os anos seguintes são de envolvimento em compromissos burocráticos para sanear as finanças próprias, restabelecer o acesso ao crédito e reencontrar a legitimidade de se voltar a ter credibilidade enquanto criador de novas empresas. Algo que constitui obstáculo de monta à inovação…
Antes de Jesus Cristo a Europa nunca se revelou particularmente inventiva. Invenções essenciais como a mó, a cerâmica, a roda, a pólvora, a imprensa ou a bússola surgiram no Norte de África ou na Ásia. Na Europa quem verdadeiramente se distinguirá como inventor será Leonardo da Vinci, com as suas máquinas futuristas, mas já só no século XVI. Será entre essa época e a da Primeira Guerra Mundial que as invenções europeias se multiplicam em todos os domínios: automóveis, meios de comunicação, energia.
Nos anos 90 do século XX a luta é feroz entre a Europa e os EUA: o DVD ou a impressora 3D são invenções europeias, mas desenvolvidas no outro lado do oceano Atlântico. Hoje a disputa mudou de competidores já que se perfila sobretudo entre americanos e asiáticos. Terá a Europa alguma possibilidade de sucesso numa luta tão renhida?


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