domingo, 20 de abril de 2014

POLÍTICA: Como é urgente que a esquerda socialista volte a ser … de esquerda!

O estado de graça, que parece existir entre a atual liderança russa e alguns partidos de extrema-direita europeia - que se apressaram a dar razão a Putin na questão ucraniana! - desagrada profundamente a quem não se gosta de ver ideologicamente na companhia da senhora le pen. Mas a questão põe-se, igualmente, na política interna francesa onde vimos quase todo o operariado transitar, sem problemas, do comunismo para o populismo fascista.
Ora, o problema com que a esquerda francesa em particular, e europeia em geral, se confronta nesta altura é com a apropriação pela extrema-direita de algumas das principais bandeiras outrora por si empunhadas.
O que os operários franceses, que votam em marine le pen, pretendem é a preservação do direito ao emprego face a uma globalização, que deslocaliza os seus postos de trabalho para outras paragens. Perante a ameaça da miséria não será de admirar que se aproximem de quem - mesmo sem outras soluções, que não passem pela inocuidade da sua retórica demagógica! - contesta essa tendência imposta pelos interesses capitalistas.
Um bom exemplo do logro em que os mais desfavorecidos estão a cair ocorre em Inglaterra onde as propostas do partido de extrema-direita UKIP, nomeadamente as emitidas por um dos seus líderes (Nigel Lafarge, cujos discursos no Parlamento Europeu andaram a ser tão entusiasticamente partilhados por muita gente da nossa esquerda facebookiana!), beneficiarão quase exclusivamente os ingleses, que trabalham na órbita dos interesses financeiros da City, sendo os maiores prejudicados por elas - os que vivem fora de Londres - quem alegremente se preparam para lhe conferirem uma expressiva votação nas europeias.
A esquerda socialista tem errado totalmente na forma como tem criado e difundido a sua mensagem política junto dos seus potenciais eleitores. Será que eles se contentam com o tipo de discurso do tipo «não faço promessas, que não possa vir a cumprir»?
Claro que não! O eleitorado quer respostas claras quanto à forma como poderá manter e, sobretudo, melhorar a sua atual qualidade de vida. Se a União Europeia e o euro significarem apenas austeridade, desemprego, precaridade e más prestações nas áreas da saúde, da educação e da segurança social, os eleitores optarão facilmente por quem propuser o regresso ao «orgulhosamente sós». Venha tal mensagem da extrema-direita ou da extrema-esquerda!
E, no caso da Ucrânia, alguém com juízo poderá aceitar a forma como ocorreu o golpe de estado em Kiev, se pretendeu depois proibir a língua falada preferencialmente por boa parte da população e se tentou cercar ainda mais escandalosamente a Rússia pelas bases da Nato?
Mais uma vez os partidos socialistas e social-democratas deixaram-se arrastar incompreensivelmente por uma estratégia concebida no Pentágono e/ou em Fort Langley, numa altura em que Edward Snowden desmascarara a arrogância imperialista de quem, mesmo para com os supostos aliados, não deixar de os espiar como potenciais inimigos.
Não existem, pois, razões de consciência para, sendo-se de esquerda, coincidir aparentemente com as posições demagógicas da senhora le pen. É a esquerda social-democrata e socialista que anda a trair a sua raiz ideológica e a mostrar-se demasiado colada aos que deveriam nunca deixar de ser os seus inimigos de classe…
É o regresso ao filme do Nanni Moretti: a esquerda tem falhado rotundamente nos últimos anos porque lhe tem faltado um discurso e uma praxis política efetivamente … de esquerda!


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