A um ritmo quotidiano continuam-nos a chegar imagens da violência nas ruas de Caracas e de outras grandes cidades venezuelanas numa réplica do que foi a insurreição de Kiev, como se quem concebeu uma também estivesse por trás da outra.
E sobram, de facto, poucas ou nenhumas dúvidas em como a CIA anda muito ativa, quer num, quer no outro lado, sem jamais abdicar de prosseguir as suas estratégias à escala global. Como as denúncias da Assange e de Snowden demonstraram nos últimos anos, a visão imperialista da Casa Branca - independentemente de quem aí serve de cabeça de cartaz! - justifica todo o tipo de subversões favoráveis aos negócios das oligarquias ianques.
E, no entanto, ainda há quem queira ver nos «heróis» da Praça Maidan os combatentes generosos pela liberdade do povo ucraniano, independentemente das insígnias assaz comprometedoras que ostentavam sem pudor. Como insistem na mesma leitura relativamente ao governo de Nicolás Maduro, de cuja legitimidade duvidam apesar de reiteradamente confirmada eleição após eleição (dezanove vezes nos últimos quinze anos!).
É claro que o regime chavista tem reagido com ineficácia face a fenómenos sociais que andam descontrolados - nomeadamente a violência urbana que serviu de alibi mais recente à revolta da grande burguesia e torna o país no mais perigoso para se viver sem o risco de se ser assaltado ou assassinado por delinquentes. Também não evitou suspeitas fundamentadas de corrupção no seu seio, nem soube corresponder ao boicote, que através de manobras sabotadoras da logística distributiva dos produtos mais básicos os fez minguar no mercado. Mas se a grande burguesia consegue arregimentar multidões para exigir a «salida» dos que o eleitorado fez prevalecer no poder, Maduro continua a convocar manifestações igualmente impressionantes para contrariar a imagem de um poder isolado.
Vive-se, assim, num impasse: a Casa Branca esquece-se «voluntariamente» da regra básica da democracia - o respeito pelos governos saídos de eleições, que os observadores internacionais consideraram indubitáveis - e critica a «violência» dos chavistas, quando as imagens das próprias televisões denunciam precisamente o contrário. Mas também aqui nada de novo relativamente ao que já se viu em Kiev: nem respeito pelos poderes eleitos legitimamente, nem pruridos em acusar o lado contrário de violência, quando ela é mostrada sem grandes disfarces no seu próprio campo.
Vale a Maduro que os demais países latino-americanos, excluindo o subserviente Panamá, já não se curvam com a mesma facilidade de outrora às pressões vindas de Washington. E por isso a grande burguesia venezuelana repete a estratégia de 2002 e de 2004 com o mesmo insucesso. Porque o regime que Chavez lançou já conseguiu em poucos anos reduzir para metade os índices de pobreza existentes quando chegou ao poder. E os opositores sabem-no: se não tentarem destruir a obra construída até aqui ela consolida-se de uma forma, que tornará ainda mais difícil derrubá-la.
O que se vive em Caracas é mais uma demonstração clara da luta de classes numa fase aguda. E do resultado desse confronto vai resultar um avanço decisivo ou um novo passo atrás na luta dos povos latino-americanos por uma sociedade mais justa e menos sujeita às oligarquias, que tanto mal lhes têm fito.
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