terça-feira, 15 de abril de 2014

LITERATURA: No Centenário de Camus (10) - «Lettres à un ami allemand»

Em 1945 esta recolha de quatro textos escritos por Camus nos dois anos anteriores para serem publicados em revistas clandestinas, mostrava o tom grave e a emoção contida com que o autor explicava as razões dos resistentes franceses a um imaginário amigo alemão com quem se correspondesse: “Lutamos por essa  diferença que separa o sacrifício da mística, a energia da violência, a força da crueldade, (…) o falso do verdadeiro e o homem que almejamos dos deuses cobardes que vocês veneram.”
Ao contrário do alemão, o autor não situa o amor pela pátria acima de qualquer outro valor, mas afirma a força desse amor na medida em que o conjuga com a fé no homem, na justiça, na verdade e na liberdade.
A Europa submetida pela força das armas ele contrapõe a que resultará da inteligência e da coragem, “num justo equilíbrio entre o sacrifício e o apelo da felicidade, entre o espírito e a espada”
Na última carta Camus prossegue a reflexão já iniciada em «O Mito de Sísifo», anuncia muitos dos editoriais no «Combat» ou algumas páginas de «A Peste».
Se é verdade que o mundo não tem sentido, o homem tem-no, porque exige tê-lo. Entrados à força na História, capazes de gestos heroicos, os resistentes não terão perdido a alma, porque não esqueceram a beleza da Natureza nem o sabor da alegria.
A ausência de ódio e de desprezo, poderá tê-los fragilizado momentaneamente, mas aumentar-lhes-á o sentido de grandeza no momento da vitória.


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