quarta-feira, 23 de abril de 2014

HISTÓRIA: No centenário da 1º Guerra Mundial (II) - A presença dos imperialismos

Há genuína surpresa em muitos historiadores, quando descobrem como emergiram sentimentos belicistas em pessoas pacíficas e até capazes de reconhecerem a responsabilidade dos seus dirigentes na criação de um clima propício à deflagração da guerra.
Era essa a opinião dos líderes do movimento socialista internacional, porta-vozes do pacifismo como Jean Jaurès ou Karl Kautsky, que em 1910 apontaram as responsabilidades da classe dirigente dos seus países como fautoras das condições para iniciarem a guerra e, em 1914, não hesitaram em transferir essa responsabilidade para a classe dirigente do inimigo nacional.
É essa crença generalizada, que explica a unanimidade com que os mobilizados de todos os países responderam ao apelo, adiando para depois a realização de outros sonhos, como os da revolução social ou, no caso dos italianos e de alguns povos da Europa Central, a almejada emigração para a América. A estes últimos a guerra irá dar a ilusão de terem deixado de ser cidadãos de segunda classe. Aos outros, camponeses ou provincianos, a guerra irá propiciar-lhes o que a sua existência diária nunca lhes poderia facultar: uma extraordinária aventura. Muitos deles nunca tinham andado de comboio ou visto uma grande cidade e iludem-se com a vã glória de regressarem a casa com os louros da vitória.
O sonho de um mundo pacífico, que tanto animara os ideais dos socialistas e dos internacionalistas, esvai-se com o impulso do entusiasmo guerreiro comum a todos os povos europeus.
Os combates que opuseram as nações umas às outras correspondiam a uma tradição enraizada nos níveis mais profundos da consciência desses povos.
Cada um deles pressentia a ameaça à existência por parte do seu inimigo hereditário. Esse instinto coletivo não era propriamente fútil já que o «programa de setembro de 1914» dos dirigentes alemães pressupunha o «enfraquecimento definitivo da França de forma a que nunca mais volte a ser uma grande potência».
Pelo seu lado Delcassé, Poincaré e os chefes militares franceses entendiam «regredir a Alemanha à sua situação antes de 1866.
Os russos apoiavam as minorias eslavas do Império Austro-Húngaro para conseguir a longo prazo a destruição do Estado dos Habsburgos.
Quanto aos turcos procuravam garantir a desintegração do Império dos czares.
Quer os dirigentes, quer os povos viviam a pressão de uma espécie de fatalidade quanto ao carácter inevitável da guerra, que ultrapassava o mero imperialismo das potências e se inscrevia em instintos psicológicos mais obscuros.
A composição das alianças reforça a ideia da natureza imperialista da guerra, das suas causas essenciais, ou seja daquelas que os pacifistas realçavam e a análise marxista revelava. Ainda assim elas não eram absolutamente determinantes porque, segundo Rosa Luxemburgo, Kautsky e outros se o imperialismo continha em si as tendências bastantes para provocar as guerras (…) os consórcios e os cartéis estavam interessados na manutenção da paz (…) como o tinha demonstrado a crise de Marrocos de 1911.
Em 1913, o francês Jean Jaurès e o alemão R. Hasse afirmavam: a maior garantia para a manutenção da paz apoia-se nos investimentos internacionais (…). São aliás três as forças, que concorrem a favor da paz: a solidariedade do proletariado, a cooperação dos capitais ingleses, franceses e alemães e o medo dos governos quanto à possibilidade de a guerra preparar o tereno para a Revolução.
Tais conclusões revelaram-se falsas, embora assentassem em premissas corretas. A formação da Tripla Entente (França, Grã-Bretanha e Rússia), a consolidação da aliança entre o Império Austro-Húngaro e a Alemanha) bem como a evolução das rivalidades imperialistas tornaram inevitável o confronto entre as grandes potências.


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