sábado, 12 de abril de 2014

IDEIAS: A Europa deixou de inovar? (II)

Estará a Europa a perder a corrida à inovação tecnológica, sem a qual as suas possibilidades de crescimento ficarão cerceadas? Prosseguimos o desenvolvimento da resposta a essa questão, que contrapõe duas posições antagónicas: a do antigo diplomata norte-americano Ben Scott, para quem a Velha Europa é um caso perdido, e a do investigador francês Denis Cavanucci, que está longe de dar o combate como perdido.
Ben Scott conta a sua experiência pessoal, que espelha bem a diferença cultural entre a Europa e os Estados Unidos. Quando trabalhava no Departamento de Estado com Hillary Clinton visitou pela primeira vez a Alemanha para dar uma conferência sobre um sistema de diplomacia digital, que estava a ser desenvolvido pelo Governo norte-americano. Depois da sua intervenção, um diplomata alemão na reforma dirigiu-se-lhe para dar os parabéns e dizer-lhe:
- É  que gosto muito em vocês: quando têm uma grande ideia vão em frente! Não se chegam a questionar se ela vai ou não funcionar! Não se preocupam com o facto de estarem ou não preparados, de terem ou não os recursos suficientes ou uma organização adequada! Vão em frente e corrigem o que houver a aferir mais tarde! Na Alemanha tem-se uma grande ideia, faz-se um plano para a implementar no prazo de cinco anos e, quando chega essa altura, isso já não tem interesse nenhum!
Denis Cavanucci, do INSA de Estrasburgo,  reconhece essa dificuldade europeia em investir recursos no que, à priori, não dá garantias de vir a ter sucesso. Mas contrapõe com uma característica porventura menos positiva do que  acontece do outro lado do Atlântico: vive-se a cultura do efémero e, com a mesma rapidez com que surgem, as decisões também são abandonadas. Assim, enquanto o inventor é rapidamente entregue a si mesmo, se a estratégia em que se suporta se altera, na Europa ele é bem mais acompanhado desde a criação do conceito até à sua implementação final.
Em 2013 o record de patentes bateu novo record: 205300. Os norte-americanos lideram o ranking desses inventos com 57 mil, seguidos do Japão com pouco mais de 44 mil e da China com 21 mil. O primeiro país europeu nessa classificação é a Alemanha em 4º lugar, com a França a ficar em 6º lugar. Mas se olharmos para a evolução anual desse número de patentes é a China quem mais progride com um crescimento de 15% em relação a 2012.
Se contarmos com toda a União Europeia o número de patentes registadas ascendeu a 56700, que justificou a criação de um Plano destinado a fomentar a investigação, designado como «Horizonte 2020», dotado de um investimento de 80 mil milhões de euros (ou seja praticamente o valor aplicado no resgate da economia portuguesa desde 2011).
Se comparamos com o precedente quadro comunitário concebido com  o mesmo objetivo, e agora terminado, há uma maior ambição, já que só se tinham alocado 53 mil milhões. Existe, assim, um claro interesse europeu na aposta da investigação, que contraria totalmente a vontade política e a prática assumidas pelo governo de passos coelho. Nesse sentido era outra a estratégia seguida por Portugal, quando o liderava José Sócrates.
Ben Scott tem dúvidas no sucesso do plano agora aprovado, porque não acredita numa relação direta entre a inovação e os recursos orçamentados para a tornarem possível. Prefere, pelo contrário, elogiar a China pela forma como consegue conciliar o controle centralizado da investigação com a capacidade para lhe dar a natural sequência prática. Se até recentemente os chineses tinham-se limitado a copiar e a desenvolver a mais baixo custo as patentes criadas por outrem, a situação está a conhecer uma rápida evolução e a confirmá-los como potenciais líderes mundiais na inovação e desenvolvimento.


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