As últimas semanas têm sido pródigas na edição de livros de leitura muito prometedora. Se já ando a ler o mais recente do Rui Zink, ainda aguardam a vez os da Lídia Jorge, da Dulce Maria Cardoso, da Gabriela Ruivo Trindade ou o do João Tordo. Sem esquecer aquele que o Adelino Gomes e o Alfredo Cunha publicaram sobre «Os Rapazes dos Tanques».
Mas esta semana outro dos bons jornalistas, que temos o privilégio de ler - o Paulo Pena - apresentará o seu «Jogos de Poder», que também constituirá leitura obrigatória para quem quiser compreender melhor o quanto vivemos uma crise ditada pelo comportamento criminoso da banca mundial.
Quando nos querem enganar atribuindo-nos a responsabilidade por termos cedido ao despesismo (veja-se como o pinguim que lidera a coligação de direita às europeias insiste nessa tecla) ou pretendem iludir-nos sobre as verdadeiras responsabilidades dos ladrões, que lideraram e ganharam fortunas à conta do BPN, teimando em distrair a atenção dos incautos com a suposta responsabilidade de Vítor Constâncio, é bom reaferirmos o conhecimento aprofundado do que realmente ocorreu e quem foram, e continuam a ser, os verdadeiros vilões da história.
Que se trata de um problema global não tem dúvidas o autor do livro, que se socorre nomeadamente de uma citação elucidativa de Paul Krugman: “À medida que o sistema bancário-sombra atingiu, ou até ultrapassou, a importância da banca convencional, os políticos e os responsáveis do Estado deviam ter percebido que estava a ser recriada a mesma vulnerabilidade financeira que tornou possível a Grande Depressão.”
Mas a dimensão nacional do problema é tal que “o dinheiro que foge de Portugal representa quase um quarto da riqueza no país.” O dinheiro que tanta falta faz para manter uma educação e uma saúde públicas de acordo com os imperativos constitucionais e para cumprir para com os reformados e pensionistas o contrato com eles estabelecido, quando o Estado lhes cobrou os respetivos descontos.
Para que dezanove das vinte empresas do PSI-20 escapassem aos impostos encontrando refúgio em sedes tipo caixas-do-correio na Holanda, o dinheiro por elas gerado faltou ao orçamento do Estado português. E, no entanto, gente da estirpe de um Soares dos Santos continua a ter direito à palavra nos canais televisivos como se de impoluta personalidade se tratasse e não de um foragido fiscal…
Segundo Paulo Pena cerca de metade do PIB mundial já se abrigou em paraísos fiscais impedindo qualquer projeto político de redistribuição mais justa da riqueza mundial.
O tal despesismo de que quiseram atribuir-nos culpas revestiu-se em Portugal da pressão bancária para que os portugueses comprassem casa própria, ninguém cuidando de gerar alternativa conveniente no mercado de aluguer. Os bancos precisavam de vender créditos para que os seus lucros crescessem até à estratosfera: “Em 1994, a banca portuguesa emprestou 3 mil milhões de euros para a compra de casas. Em 2007, na véspera da crise, esse montante tinha quintuplicado: 15 mil milhões. O volume total dos créditos sobre hipotecas era, quando a crise rebentou, de 104 mil milhões de euros. Muito mais do que os 78 mil milhões que a troika emprestou a Portugal.”
Sem que esses mesmos bancos mantivessem ativos bastantes para suportarem o inevitável rebentamento da bolha imobiliária, que estavam a alimentar. Constata José Reis, diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra que “o sector bancário foi, entre nós, o centro nevrálgico da acumulação financeira, ao promover um endividamento elevado e ao não conservar a posição equilibrada que teve até final dos anos 90 e ao degradar os rácios entre depósitos e empréstimos”.
O que nós portugueses estamos a pagar com os cortes, que sofremos através de impostos ou nos rendimentos, é fruto da irresponsabilidade ou comportamento doloso de gente que viu na banca a oportunidade para se afiambrar com parte substancial da riqueza produzida no país...
De tudo isto cuida o livro de Paulo Pena, que passa a ombrear com os que comecei por referenciar como as leituras imprescindíveis desta primavera.
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