Há cinquenta anos, quando ainda mal entrara na escola primária, já se me colocava a questão de ir ou não à guerra colonial.
Todas as semanas, e por várias vezes, os soldados aquartelados na Trafaria, passavam-me debaixo da janela, matraqueando com os seus passos ritmados aquela que já era sentida como uma inquietante ameaça à minha integridade.
Nunca por nunca iria servir de carne para canhão na guerra para onde salazar mandava ir em força - eis uma certeza que se foi consolidando ao longo da adolescência. E foi assim que o 25 de abril me apanhou aos dezoito anos quando já encontrara forma expedita de resolver a questão - entrando para a Escola Náutica! - sem ter de imitar os amigos, que emigravam e se tornavam refratários.
O romance de Philip Roth trouxe-me de volta esse passado, porque Marcus Messner, o seu protagonista, também procura prolongar os estudos universitários como forma de não ser enviado para a frente de batalha na Coreia. E conta com argumentos fortes: excelente aluno, não se quer distrair com qualquer atividade colateral (daí a escusa a integrar-se numa das fraternidades da universidade do Ohio onde se matriculou) para se concentrar totalmente nos estudos.
Mas, se ele trocara Newark por uma cidadezinha no interior dos EUA fora para escapar à obsessão do pai com a sua segurança. De facto o talhante judeu, que ele tanto idolatrara em criança tornara-se num obcecado com todos os perigos, que pudessem pôr em causa a vida do seu único filho. E, paradoxalmente, os acontecimentos ir-lhe-ão dar razão, já que empurrarão Marcus para a expulsão, acusado de práticas indecentes com a namorada no hospital onde estava internado devido a uma operação ao apêndice.
O amor por uma rapariga bastante transtornada com as circunstâncias sociais e morais em que crescera, também o arrastarão para a queda. E Marcus, o filho do talhante, que ajudava o pai a retirar as vísceras das galinhas vendidas na loja familiar, acaba por ver as suas retalhadas por uma baioneta chinesa...
Sem comentários:
Enviar um comentário