segunda-feira, 14 de abril de 2014

POLÍTICA: a impaciência por outro 25 de abril

“Sabe o que eu queria, menina? Outro 25 de Abril!” é o desabafo, da operária têxtil Deolinda Araújo  à jornalista Natália Faria, do «Público», que a foi entrevistar para compreender como é (im)possível sobreviver com o salário mínimo no Portugal de hoje.
Quarenta anos depois do 25 de abril esta quinquagenária é obrigada diariamente a ir a pé para a fábrica por não ter dinheiro para o autocarro. Mais de meia-hora de esforço suplementar de manhã e ao fim da tarde. Mas também o cenário da fome á sua volta: “Na fábrica vejo colegas a passar fome. Para almoçar, temos uma mesa e cada uma leva de casa. Lá mais para o final do mês, algumas saem da fábrica à hora de almoço para esconder que nem para a sopa tiveram.”
Bem que gostaria de as ajudar, que a solidariedade continua a ser um valor estrutural na classe dos explorados, mas como consegui-lo se o marido, diabético e com necessidade de dispendiosos medicamentos, ganha quase o mesmo e o filho, de 28 anos, continua lá em casa, incapaz de conseguir emprego?
Mas não é só a fome: há que contar também com as humilhações dos patrões ou dos seus cães-de-fila. Que obrigam as operárias a dar quatro horas de trabalho suplementar não remunerado aos sábados de manhã. “Se alguém reclama, respondem que quem não estiver bem é livre de ir para tribunal. E ninguém vai, claro.
No artigo, intitulado “Se for para tirar ainda mais, prefiro que não me aumentem”, Natália Faria ouve os sintomas de uma revolta surda, ainda à procura de se expressar com a violência de quem muito está a sofrer: A gente olha para a cara umas das outras e vê tudo desanimado, triste, e eles sempre na maior, sempre com um sorriso. Quem trabalha hoje, tornou-se lixo, gente que está ali para ‘dar’ a produção que eles pedem. Então, se for para tirar ainda mais, prefiro que não me aumentem o salário. Se não tiver bife, como sopa. Mas dêem-me paz”.
Há um Portugal indignado, que está à espera do momento em que os brandos costumes se transformem na vontade de um tempo novo como o prometido pela Revolta dos Capitães de Abril. O Portugal que integra o triplo dos trabalhadores, que entre 2006 e 2012, passaram a receber como paga o salário mínimo nacional. Cerca de 400 mil pessoas. Que reconhece Carlos Farinha Rodrigues, investigador do fenómeno social, não conseguem ganhar o bastante para se livrarem das situações de pobreza.


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