A estratégia de marketing eleitoral ensaiada pela coligação de direita, e baseada na questão da revisão do salário mínimo, não lhe terá corrido particularmente bem.
À partida o objetivo seria o de ganhar votos junto dos muitos milhares de portugueses, que sobrevivem numa irremediável pobreza com esses 485 euros mensais, acenando-lhes com a possibilidade de algum alívio nas suas provações. Confiavam para isso no desejo atávico de ouvirem boas notícias sem questionarem o que teriam de dar em troca.
Não é no eleitorado esclarecido, que a direita ainda confia encontrar paliativo para a sua anunciada derrocada eleitoral, mas na fraude argumentativa junto dos mais ingénuos e desinformados dos portugueses. Confiando, nesse sentido, com a ajuda prestimosa que a Igreja Católica tem prodigalizado, sobretudo desde que a voz indignada de D. Januário Torgal foi silenciada nos meios de comunicação controlados pelo governo e pelos patrões interessados em filtrar o ânimo revoltado dos que se sentem indignados.
Nos corifeus dos corredores governamentais não passou sequer uma mínima hipótese de tratarem fazerem da atualização do salário mínimo uma oportunidade para reduzirem as desigualdades gritantes que estes três anos têm agravado entre os que quase tudo têm e os que têm as mãos cheias de nada.
Eles que detestam tudo quanto representa o espírito do 25 de abril nunca ponderaram no quanto faria sentido o doparem a economia real com a equiparação do salário mínimo para o valor a ele atribuído logo após a Revolução dos Cravos, quando se estabeleceu o valor de 3300 escudos. Que corresponderiam hoje a mais 50 euros nas contas do «Expresso» e a mais 99 nas de Francisco Louçã.
Perder-se-ia competitividade apressam-se a explicar, quando instados a justificarem as sucessivas recusas em procurarem minimizar a tortura quotidiana em que (sobre)vivem os mais pobres.
Mas, contrapõem os mais lúcidos: que viabilidade ainda têm as empresas, que alegam só poderem sobreviver à custa dos salários de miséria, que pagam a quem nelas trabalham? Quem, no seu perfeito juízo, acredita no futuro de empresas sem grande conhecimento nem inovação, cujos produtos podem ser facilmente encontrados por preço bem mais barato do que o seu custo local em qualquer loja chinesa das nossas vilas e aldeias?
A proposta de passos coelho seria, pois, para aplicação a partir do próximo ano e com contrapartidas a “negociar” na Concertação Social: a da total desproteção das escassas proteções ainda usufruídas pelos trabalhadores em relação aos seus empregadores.
Foi o despudor de tal proposta que as centrais sindicais e os partidos da oposição denunciaram dentro dos limites em que os canais televisivos - todos eles ao serviço dos que ainda mandam! - permitiram. Mas de forma suficientemente audível para que poucos incautos ainda caiam na esparrela com que o psd e o cds ainda os pretenderiam iludir.
Mas a intenção de rever de forma ainda mais desequilibrada o Código do Trabalho também colhe uma explicação lógica: tendo em conta o célebre “compromisso” de luís montenegro (que o «Inferno” do Canal Q não se cansa de nos lembrar!), a forma mais expedita que marilu albuquerque encontrará para reduzir a despesa do Estado residirá no despedimento em massa de funcionários públicos agravando seriamente a já explosiva situação social, que se vive no país. Para o que lhe daria imenso jeito uma legislação, que limitasse ao máximo as indemnizações com que se vê obrigada a contar…
Às vezes dá para questionar se a (falta de) lógica subjacente às medidas impostas por este governo deriva de uma total cegueira ideológica, que o faz ignorante do fosso para que conduzem o país, se já vivem numa inércia austeritária de que se sentem incapazes de travarem, cientes de perderem de vez a sua identidade política. E qualquer futuro...
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