Sinto uma enorme vontade em ser do contra quando se trata de avaliar as possibilidades de redenção do novo governo francês liderado por Manuel Valls.
Se à esquerda abundam artigos a dá-lo como o epílogo de uma esperança representada pela eleição de Hollande nas últimas presidenciais, à direita exulta-se perante a suposta rendição definitiva dos socialistas franceses à lógica austeritária e aos compromissos com o patronato. Até existem uns quantos que já dão marine le pen como a futura ocupante do palácio do Eliseu, como se ela não representasse uma força política, que acaba de receber 7% dos votos dos eleitores franceses.
Eu seria bem mais prudente nessas previsões, que colidem com a velha grande máxima de um antigo capitão do F.C. Porto. E dá para lembrar que Sócrates também era posicionado à direita do Partido Socialista. E, no entanto, basta olhar para toda a raiva, que despoletou nos donos dos pasquins tipo «sol» ou «correio da manhã» para lembrar qual o saldo da sua ação governativa, bastante mais favorável ao fator trabalho do que ao do capital.
E não é preciso ser muito sagaz para contrapor à suposta vertente direitista de Valls, as bem posicionadas à esquerda de Montebourg ou Hamon, que também integram o lote dos 16 ministros.
Venham, pois, as eleições do final de maio e a possível vitória dos socialistas europeus para, com Martin Schulz a substituir durão barroso, termos ventos mais favoráveis a soprar por todo o continente. Até porque vão sendo cada vez mais raras as vozes dos que ainda insistem na direção tomada por passos coelho e afins.
Aqueles que já terão dado os socialistas franceses como cadáveres em putrefação, estarão a cometer um exagero, que não tardará a ser contrariado pela realidade...
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