Num artigo publicado na edição portuguesa de «Le Monde Diplomatique», Olivier Zajec sugere uma proposta absurda e bem humorada: os chineses deveriam erigir uma estátua em Pequim ao famigerado senador Joseph McCarthy, líder da tenebrosa campanha anticomunista lançada nos finais dos anos 40 do século passado e em que Reagan e Nixon tiveram papel de primeira grandeza.
Mas a que se deve a sugestão? É que, por essa época o Pentágono contava com a colaboração de um jovem engenheiro chinês, Qien Xuesen, que revelava o seu génio no Jet Propulsion Laboratory de Pasadena.
O prestígio enquanto especialista de balística e de astronáutica era tal, que se vira incumbido de interrogar Wernher von Braun, quando a Segunda Guerra terminou e havia todo o interesse de americanos e soviéticos em contarem com a colaboração dos principais cientistas nazis.
Aonde entra então o senador McCarthy? É ele um dos principais acusadores do suposto comunismo de Qien Xuesen, pressionando para que fosse sujeito a prisão domiciliária e, depois, sumariamente expulso para o seu país de origem, em 1955.
Recebido por Mao Zedong, o repatriado logo é designado para liderar o primeiro programa chinês de mísseis balísticos. E será ele a supervisionar, em 1966, o disparo do primeiro míssil nuclear chinês no deserto de Xinjiang. E ainda se constata a sua liderança no lançamento do primeiro satélite chinês em órbita em 1970.
Falecido em 2009, Qien Xuesen é considerado o pai de todo o programa espacial chinês, que já ultrapassou entretanto toda a concorrência e se prepara para ter a Lua e, depois, Marte como objetivos estratégicos a atingir.
Compreende-se agora, porque é que a estátua seria bem merecida? Sobretudo enquanto demonstração do que pode ser a estupidez do preconceito político contra quem possa pensar de forma diferente
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