sábado, 20 de julho de 2013

FILME: “Os EUA e a Droga - uma Guerra sem Fim” de Eugene Jarecki

Brad Pitt foi um dos produtores deste documentário impressionante sobre a falência de uma estratégia que, ao fim de quarenta anos, saiu claramente derrotada: hoje a droga é mais barata, mais acessível e mais pura.
Percorrendo vinte dos Estados norte-americanos, Jarecki recolheu testemunhos de traficantes, drogados, polícias, juízes e todos quantos, direta ou indiretamente, estão condicionados pelo negócio da droga.
Nixon foi quem fez da droga o inimigo número um da América. Mais tarde, Reagan prometeu uma guerra sem contemplações para lhe pôr cobro. Mas, já arrumadas tais administrações nos livros de História, continua-se a matar, a roubar e a destruir famílias por causa da droga. E todo o dinheiro investido na repressão, na criação de prisões, no funcionamento do aparelho judicial e policial destinado a desenvolver aquela estratégia, já provou ter fracassado nos resultados.
Nos bairros pobres as possibilidades de ascensão social e de saída da miséria residem no tráfico. E são esses rapazes e raparigas, que servem de traficantes, quem são apresentados como delinquentes a reprimir. Com apenas 5% da população mundial os EUA contam com 25% da população encarcerada. E, na maioria, são negros.
A luta contra a droga começou nos anos 50 com a criação das Brigadas dos Estupefacientes. A droga abarcava então todos os estratos sociais, mas em escala reduzida, muito embora já fosse evidente a preferência policial pelos delinquentes de cor escura. Ora, já então, a pobreza era a razão de ser dessa opção pelo tráfico de substâncias proscritas.
Ainda assim, quando Nixon anunciou a guerra contra a droga em 1971, a aposta residia no tratamento dos toxicodependentes. Mas, no ano seguinte, durante a campanha para a reeleição, a Administração adotou um discurso mais musculado, por ser aquele que renderia mais votos.
Desde então todos quantos têm ocupado o Gabinete Oval da Casa Branca mantiveram esse discurso mais populista.
Antes dos anos 50 quase todas as drogas eram consumidas sem penalização pelas diversas camadas sociais. Algumas exceções demonstravam, porém, como as medidas proibicionistas continham, à partida, uma fundamentação económica e racista.
O ópio, por exemplo, foi erradicado da legalidade, porque era consumido pela comunidade chinesa vinda para os EUA para a construção das redes ferroviárias e cujo nível de qualificações e de competências progredira até à sua concorrência com o operariado branco das grandes cidades. Assim, em vez de promulgar medidas de discriminação positiva a favor da comunidade branca, foi mais fácil aos governos estaduais promulgar as de proibição de uma droga, que constituía uma tradição cultural das populações orientais.
Nas décadas seguintes, quer com a cocaína para os negros, quer com a marijuana para os mexicanos, essas proibições sucessivas voltaram a estar interligadas com a ascensão social dessas minorias, que tendiam a competir com os trabalhadores de cor branca.
Na mesma linha, as penas hoje passíveis de serem aplicadas a consumidores de crack (droga resultante da mistura de cocaína adulterada com bicarbonato de cálcio e com água) são muito mais elevadas do que as atribuíveis a consumidores de cocaína, porque aqueles são maioritariamente negros pobres e nestes últimos predominam os brancos ricos.
Mas, nos últimos anos, está a crescer a tendência de acrescentar aos negros pobres, os brancos igualmente marginalizados pelo capitalismo dos cada vez mais raros empregos, confirmando a irrelevância da questão de cor, em favor da classe social.
Ora, branco ou negro, quando não se consegue sobreviver dentro da lógica da economia convencional, não resta outra opção, que não seja a dos esquemas alternativos. Geram-se assim novas oportunidades de negócios para os suspeitos do costume: um dos negócios mais rentáveis passou a ser o dos equipamentos prisionais. E são as próprias cidades a apoiarem a repressão como forma de manterem cheias as prisões locais, que garantem os empregos mais estáveis nas suas comunidades desindustrializadas.
Para o conhecido argumentista David Simon a guerra contra a droga transformou-se na guerra contra os pobres, esses 15% da população para os quais deixaram de existir empregos. E os condenados à perpetuidade da sua reclusão são os índios ou os judeus de hoje, encerrados em campos de concentração. Hoje, nas prisões dos EUA, vive-se um Holocausto em lume brando...



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