Mesmo não coincidindo totalmente nas suas apreciações, gosto muito de ver Augusto Santos Silva emitir os seus comentários semanais na TVI24 às terças-feiras.
A coberto de uma objetividade a que se sente vinculado enquanto comentador, ele demonstra uma capacidade sibilina para analisar a realidade política e dela tirar ilações assassinas para os visados pelas suas críticas.
Aparentemente a sua intervenção desta semana até parece ser simpática para o governo ao considerá-lo reforçado com alguns novos ministros mais experientes, capazes de diluírem a sensação de garotice dada por passos, portas & Cª nas últimas semanas. E passando, igualmente, a contar com valorização ministerial a áreas esquecidas nos últimos dois anos como é o caso do Ambiente.
A primeira crítica corrosiva surgiu quando se interrogou como funcionará a coordenação política, teoricamente entregue a três ministros diferentes: paulo portas, poiares maduro e marques guedes. A sua previsão: “às vezes o excesso de figuras encarregues de um determinado papel é meio caminho andado para que ele seja mal desempenhado!»
A seguir vem temperar as ilusões de quem espera de pires de lima a salvação da economia e do governo em si, como se sentiu, por exemplo nas palavras de fernando ulrich. Ora o craque agora transferido da Unicer recebe como “prenda” uma pasta diminuída na sua importância porque fica:
· sem o setor da Energia, que passa para o ministério do Ambiente;
· sem os fundos comunitários do QREN, que continuam com poiares maduro;
· e sem o Emprego, que é agregado à Segurança Social.
Isto significa que o novo ministro da Economia, deveria antes considerar-se um mini-Ministro da Economia”.
Mas, prosseguindo na sua análise, Augusto Santos Silva interpreta como aspetos mais relevantes da remodelação:
· a ressurreição de passos coelho depois de três mortes anunciadas (primeiro por vítor gaspar, depois por paulo portas e, depois, por cavaco silva);
· e a fratura óbvia que passa a haver entre duas componentes distintas do governo com passos coelho e maria luís albuquerque, apostados em manter imutável a política de austeridade do anterior ministro das Finanças e o CDS com pires de lima à cabeça a defender menos impostos e mais crescimento da economia.
Como é que estes dois governos vão coexistir entre si será motivo de grande interesse nas semanas que se seguem. Sobretudo, quando está por definir como será concretizado o corte de 4,7 mil milhões de euros !
Com esta remodelação passos coelho terá mostrado habilidade tática para transferir para o parceiro de coligação grande parte do ónus dos fracassos, que se vierem a verificar na continuidade da ação governativa. Seja na continuação da quebra da atividade económica, seja no aumento do desemprego, seja nos impasses com uma troika pouco complacente com a necessidade de infletir aquilo que se lhe prometeu.
É tudo isso que leva Augusto Santos Silva a considerar o CDS como o grande perdedor da originalidade de se criarem dois governos dentro da aparência de um mesmo elenco ministerial.
Mas passos coelho vai deparar com outras dificuldades não menos significativas ao manter maria luís albuquerque, quando se a vê ir ficando cada vez mais enfraquecida à medida que avançam os trabalhos da comissão parlamentar sobre os swaps. Tanto mais que se sucedem provas documentais em como ela mentiu a tal comissão, o que é legalmente um crime.
Com esta superação momentânea da crise o PSD terá conseguido dar um «abraço de urso» ao CDS.
Mas já está prometido um combate homérico para breve. Provavelmente para quando estiver em questão a preparação e apresentação do Orçamento Geral do Estado para 2014.
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