terça-feira, 30 de julho de 2013

POLÍTICA: a tatear no caos!

Tenho aqui referido com alguma frequência os artigos de opinião publicados por Fernando Sobral no «Jornal de Negócios».
Embora nem sempre de acordo com as suas abordagens dos acontecimentos, devo reconhecer-lhes a constante profundidade da reflexão e a erudição em que subjazem os seus argumentos.
No texto «Um país tateando no caos», publicado na transata sexta-feira, ele reconhece o estado a que a coligação PSD/CDS conduziu o país: É hoje visível o que Vítor Gaspar, Passos Coelho e a troika fizeram a Portugal: espoliaram os cidadãos de rendimentos e de certezas, espalharam o medo, aniquilaram o consumo e a sobrevivência da teia de pequenas empresas familiares que eram a forma de sobrevivência de muitos. Em nome da dívida e do défice e de um sonho: tornar este um país de exportações com base em salários miseráveis.
A exemplo de Leonel Moura que, noutro artigo já aqui referido, também revela um profundo pessimismo quanto á viabilidade de sairmos de um ciclo de pauperização, Sobral também olha para o perfil sociológico da população portuguesa e conclui: quando se transformou os cidadãos em puros consumidores (de gadgets, de partidos) e se reconduziu todo o discurso social à lógica económica (cada pessoa funciona hoje como uma empresa, tem de ter sucesso ou lucro), a política perdeu a noção da realidade. A destruição, pela austeridade e pela globalização, da classe média (pilar da democracia) segue essa lógica. Todos têm a noção que este sistema baseado no consumo infinito acabará por implodir, porque não há recursos naturais que o sustentem indefinidamente.
Estamos assim num tempo de viragem em que a esquerda terá o dever de atrair a si essas vastas camadas outrora consideradas de classe média e agora proletarizadas, senão mesmo atiradas sem cerimónias para as franjas do lúmpen sem abrigo nem emprego. E dissocia-las da miragem com que o capitalismo as iludiu de uma sociedade de consumo sem travões. O futuro que se segue terá, inevitavelmente, menos centros comerciais e dispensará as praias da Riviera Maya. Mas poderá  sustentabilizar-se numa distribuição mais equitativa dos bens produzidos a começar pelos empregos disponíveis...


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