Numa entrada no seu blogue (“A Terceira Noite”), e datada de hoje, Rui Bebiano afirma que, neste momento, o PS está numa das maiores encruzilhadas da sua vida. E é bem capaz de ter razão, bastando confirmá-lo nas redes sociais aonde existem previsões para todos os gostos, entre a recusa definitiva de qualquer acordo e a submissão vergonhosa aos ditames da direita e da troika.
Opte por uma ou outra dessas posições e não faltará quem torne o Partido Socialista o epicentro de todos os terramotos, que se seguirão. O risco de pasokização, que tanto tem assombrado a generalidade das esquerdas sociais-democratas europeias, também aqui se verifica.
Nesta altura o capitalismo ainda não chegou ao momento de se ver atirado para o caixote do lixo da História, mesmo se considerarmos a inevitabilidade de ter entrado na fase da sua decadência a partir do momento em que adotou a dimensão suscitada pela globalização.
Necessitando sempre de mercados cada vez mais alargados para assegurar as mais valias para os seus oligopólios, deixou de ter soluções para um mundo maioritariamente em recessão.
Mas se não tem soluções para se viabilizar dentro da sua lógica expansionista, o capitalismo soube-se dotar de ferramentas essenciais para adiar tanto quanto possível o seu enterro. Ora todas quantas se integram no funcionamento do sistema financeiro internacional - desde os hedge funds às agências de rating, passando pelas Bolsas e pela banca de investimento - estão orientadas para subalternizar o poder político em função das suas próprias orientações. Hoje, a nível europeu, o medíocre durão barroso ou o influente mário draghi estão de mão dada com o FMI a substituir as legitimidades democráticas pela lógica autoritária dos credores das dívidas públicas.
O partido atualmente maioritário nas preferências dos eleitores, não voltou a retirar da gaveta o marxismo, que o seu pai fundador guardou em tempos (quando as ideias de Marx coincidiam com a palavra «socialista») e, por isso, não encontrou forma de se posicionar criticamente perante a lógica da liberdade dos mercados, mesmo reconhecendo-a responsável pelo agravamento das desigualdades sociais. E parte para uma discussão em que se arrisca a sair como o mau da fita por se manifestar contrário aos «interesses da salvação nacional» tal qual Belém e São Bento não deixarão de empolar, quando o desacordo se tornar real. E bem sabemos como, além das referidas armas no sistema financeiro, os defensores do capital dominam os órgãos de (des)informação mais lidos e escutados.
Muito embora tudo aponte para uma escusa do Partido Socialista a aceder ao garrote da austeridade a que cavaco e a troika o quererão submeter, não tardará que as birras de portas e a estúpida teimosia de passos coelho na via desacreditada pelo próprio gaspar, sejam esquecidas para se apontarem baterias a quem mais lhes interessa culpar: uma oposição, que diariamente vê o seu líder desacreditado em nome da sua “frouxidão” e “falta de ideias” e a que as mentiras milhentas vezes repetidas sobre os swaps e as ppp’s acrescentarão motivos para fazer crer na falta de «alternativa credível».
Sim! O Partido Socialista está, de facto, numa encruzilhada. E, por isso mesmo, depois de ter sido sucessivamente utilizado e execrado pelos bancos e patrões durante o anterior governo, que lhe preferiu a direita com que, ideologicamente, melhor se saberiam representados, faz todo o sentido vê-lo retomar a matriz original, aquela em que a raiz laica, republicana e socialista a deveria convocar para uma firmeza clarificadora, em termos de separação de águas, entre o que são os interesses das camadas sociais por si representadas, e os dos inimigos de classe, cada vez mais obscenos na forma como pretendem manter os mecanismos de exploração sem os quais não conseguem sobreviver...
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