Há muito tempo que não me lembrava do romance escrito por Madame Lafayette, quando a Revolução Francesa estava a um século de distância. Mas a nova edição da Dom Quixote veio renovar a oportunidade de conhecer aquele que é tido com um dos primeiros romances psicológicos da literatura mundial. Porque a história é a de uma grande carga de tensão sexual entre a protagonista e o belo Duque de Némours por quem está profundamente enamorada.
O problema é que a Princesa está casada com um homem mais velho, também ele apaixonado por ela, mesmo que não correspondido. E, por uma questão de lealdade não quererá traí-lo por muitas intrigas e mexericos desenvolvidos à sua volta na corte parisiense.
Ao longo do romance a Princesa e Némours encontrar-se-ão por diversas vezes, e quase sempre por acaso, e nunca chegando às vias de facto, que desejariam. Mais ainda, quando enviúva e o obstáculo à concretização do desejo é anulado, o óbvio não acontece: em vez de esperar pelo conveniente período de nojo para se lançar nos braços do duque, a Princesa decide entrar num convento. Acabando por ele esquecida…
Há quarenta anos, quando os rapazes já liam Wilhelm Reich com a expectativa da prometida libertinagem futura, ainda muitas das suas colegas de liceu andavam a contas com este tratado sobre a fidelidade mantendo o sonho de amores platónicos vividos até às últimas consequências.
Passadas estas décadas nem a libertação sexual à moda de Reich se concretizou, nem perdurou a lógica dos amores cândidos então ainda tão influenciados pela força ideológica de uma Igreja tão avessa a modernidade anunciada no Concílio Vaticano II (ainda por retomar). È por isso que «A Princesa de Clèves» poderá ser apreciado por aquilo que verdadeiramente é: um romance clássico, que testemunha as idiossincrasias de uma época, nomeadamente no que à relação do feminino com o masculino diz respeito...
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