Ao contrário do que muitos pensam não foi Jean Jacques Rousseau o primeiro a imaginar um suposto «estado natural». Um sáculo antes da publicação do «Discurso Sobre as Ciências e as Artes», o inglês Thomas Hobbes antecipou o mesmo projeto em «Léviathan», mas numa perspetiva sem qualquer similitude com o paraíso original ou qualquer outra versão de uma idade do ouro.
Hobbes imagina um autêntico Inferno, com um estado permanente de guerra de todos contra todos. A vida do homem é então solitária, laboriosa, penosa, quase animalesca e breve.
Surge assim a célebre frase: o homem é o lobo do homem.
Por muito difícil que se conceba visão mais pessimista dos alvores da Humanidade, Hobbes reivindica-a em nome da observação da Natureza a que se dedicou. Vigora a lei do mais forte e o medo permanente, que estará na origem da emergência do conceito da Igualdade.
De facto será por a Natureza os colocar num estado de igualdade perante os objetos dos seus desejos, que os homens tendem para o confronto: Dessa igualdade de aptidões decorre a igualdade na esperança de atingir os seus fins. Eis, porque, se desejam exatamente a mesma coisa cujo usufruto não pode ser partilhado, dois homens tornar-se-ão inevitavelmente inimigos.
Assim, quer Hobbes, quer Rousseau consideram existir igualdade no «estado natural». Mas, enquanto o autor do «Contrato Social» valoriza-a ao ponto de a transformar num ideal político, Hobbes considera-a a origem de todos os males para todos os homens condenados a viverem subjugados pelos seus desejos. Em «Léviathan» eles manifestarão o cansaço por esse estado de guerra permanente e aceitarão de bom grado colocarem-se sob a autoridade de uma terceira entidade: o poder do Estado.
Temos assim um homem bom por natureza em Rousseau e inevitavelmente mau em Hobbes em duas visões antropológicas completamente opostas. Para o primeiro a sociedade é um contrassenso, para o segundo uma necessidade imperiosa...
Sem comentários:
Enviar um comentário