Este é o tempo da contagem das espingardas à direita. Sinal disso surge estampado nas capas dos jornais, que daqui a pouco estarão nas bancas. No «Público» diz-se que “Cavaco exige líder do CDS no governo”. No «Sol» afiança-se exatamente o contrário.
Numa altura de manipulação da opinião pública ainda mais intensiva do que o habitual - com recurso a uma enorme maioria de comentadores alinhados com a tese de não podermos ir para eleições antecipadas -, essas duas posições secundam estratégias completamente opostas: passos até nem enjeitará ir a eleições se puder repetir mil vezes a mentira de resultados positivos no plano de austeridade dos últimos dois anos e se puder atirar para portas as culpas da rutura.
De uma assentada conseguia livrar-se da assinatura no pedido do segundo resgate e intentaria resguardar os dedos para o último trimestre do ano, quando poderia iniciar o papel ativo de boicotar sistematicamente as políticas de António José Seguro como primeiro-ministro.
Na prática limitar-se-ia a seguir as pisadas de vítor gaspar, de quem a insuspeita manuela ferreira leite disse ter-se demitido para não lhe ser imputada a necessidade desse mesmo segundo resgate e para, pelo contrário, ser tido como o único capaz de o impedir.
Nesta crise a surpresa tem vindo de paulo portas: para o político que está há mais tempo na liderança de um dos principais partidos representados na Assembleia da República, o seu comportamento errático nestes dias tem revelado uma tal falta de instinto que, mais do que nunca, arrisca-se a ser atirado borda fora da vida partidária à conta da redução do CDS à dimensão do partido do táxi.
Mas para os socialistas as expectativas também não serão boas: se conseguirem alcançar a maioria absoluta ainda poderão contornar a campanha imediatamente lançada pela direita em como, depois de chamar por duas vezes o FMI, também lhes caberá a solicitação de dois resgates. Mas, se o não conseguirem, dificilmente conseguirão parceiro fiável para uma coligação destinada a salvaguardar os interesses efetivos dos portugueses.
Ainda assim as eleições serão a alternativa menos má para os desafios, que se colocam à equipa que, por esta altura, já estará a ser pensada por António José Seguro. E, se formos razoavelmente otimistas poderemos pensar que as eleições alemãs não correrão tão bem a Merckel, quanto ela pretenderia, obrigando-a a uma coligação com o SPD. E que Martin Schulz não tardará a substituir durão barroso na Comissão Europeia. E que, a exemplo do que já se vai sentindo nos Países Baixos e na Finlândia, também a Alemanha enfrente os efeitos do rebentamento da bolha financeira na China, que se verá condenada a reduzir drasticamente o seu crescimento e investimento em importações.
Ficarão criadas as condições para que os socialistas, a nível europeu, consigam infletir esta dinâmica depressiva para encetarem estratégias orientadas para o crescimento.
Então um outro mundo será possível e, mesmo sem ser Sócrates, o atual líder do PS poderá surpreender-nos pela positiva!
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